Foi no ano de 2015, quando saiu da Guiné Bissau, a sua terra natal, para estudar na UNILAB - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, no município de São Francisco do Conde, no Recôncavo da Bahia, in Brasil, o estudante guineense Felipe Buba Nhada, 31 anos, jamais imaginava que a viagem dos seus sonhos, para fazer uma graduação de ensino superior na área de Humanidades, se tornaria essa grande história de terror.
A situação de Felipe é critica |
“Depois que comecei a fazer fisioterapia, ele (o médico) examinou meu caso e disse que, se eu não fizer logo a cirurgia, vou acabar desencadeando outros problemas, porque eu sobrecarrego, de peso o lado direito, que é o lado que não teve problema, e com o tempo até esse lado vai ser atingido e afetará também a minha coluna”, relatou o estudante, que atualmente conta com a ajuda de amigos, campanhas, vakinha e solidarieda
de compartilhada.
de compartilhada.
Na Bahia, falam que não tem a prótese que ele necessita para o procedimento cirúrgico, que poderá ajudar na sua recuperação. Em unidades particulares, o custo de uma cirurgia como a que Felipe necessita para se recuperar totalmente, tem uma variação de valor que fica entre R$ 50 e R$ 65 mil, de acordo com orçamentos.
O drama de Felipe, contudo, não acaba por ai, vai muito além da tentativa de arrecadação desses valores. Já dura 6 anos essa Via Sacra do jovem guineense por atendimento. Após o acidente, em junho de 2015, quando ainda iniciava o curso de Humanidades, na citada universidade, e vivia do 'Auxílio Moradia', o estudante passou por algumas unidades médicas. Após ficar três dias internado no próprio município de São Francisco do Conde, em um hospital municipal, foi transferido para o Hospital Professor Eládio Lasseré, na Capital, em Salvador. Contudo, teve seu drama agravado.
Sem atendimento adequado, recebeu alta após duas semanas de internamento, com apenas uma receita de medicamentos em mãos. Achavam ali que haviam resolvido o problema. O resultado do tratamento superficial, só foi sentido dois anos depois, em 2017, quando Felipe Buba Nhada, passou a sentir fortes dores. Ao retornar ao Hospital Eládio Lasserre, foi medicado novamente e, por falta de estrutura no local, foi transferido para o Hospital das Clínicas, onde foi diagnosticado com uma artrose no quadril esquerdo, provocada pelo acidente e agravada pelo não tratamento adequado. O que Felipe não esperava e nem sabia, era que seu quadro clínico poderia piorar ainda mais. Hoje, além do risco de ficar paralitico, ele enfrenta muitas dores e já tem a locomoção parcialmente afetada em razão da lesão.
Atualmente ele está residindo em São Paulo, enquanto tenta arrecadar os valores para avançar com o seu tratamento. Ele tenta acelerar a previsão de cirurgia no setor público. Hoje, estima-se que ele deve demorar 15 anos na fila por uma prótese.
Raio X do local da lesão no quadril |
“A questão de Felipe é a ponta de um iceberg para o tratamento das instituições brasileiras para com os estrangeiros, mais precisamente com os africanos”, frisou Gonçalves. Já o jurista e Prof. Dr. Alfa Oumar Diallo, senegalês e docente dos cursos de Direito e Relações Internacionais da Universidade Federal da Grandes Dourados (UFGD), há mais de 12 anos, avalia que é óbvia a existência de um quadro caótico na saúde pública brasileira e que a influência da questão racial neste caso é evidente, porém não é oficializada. A forma com que o aspecto racial se apresenta, disfarçadamente, na opinião dele, dificulta, contudo, atribuir influência do racismo ao descaso sofrido pelo estudante.
Por causa desses aspectos, o CEN - Coletivo de Entidades Negras, organização do movimento negro brasileiro, que atua pela garantia de direitos para a população negra no Brasil, resolveu apurar o caso. Coordenador de Relações Internacionais do CEN, o ativista, Mestre e Doutorando em Relações Internacionais, Beto Infande, que também é natural da Guiné-Bissau e está acompanhando o caso, afirma categoricamente que há racismo no tratamento vivenciado pelo estudante Felipe Buba Nhada. “Tenho certeza de que se a pessoa sofrida fosse branca, esse comportamento seria outro”.
Doutorando em Relações Internacionais pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina, o dirigente do CEN também teceu críticas à forma com a qual a Unilab conduz o caso, de forma desrespeitosa com um estudante deslocado para o Brasil. “Coloco a responsabilidade grande na instituição, porque Felipe ainda é estudante até hoje. Quando ele sofreu o acidente, eu mesmo o acompanhei no hospital e, quando voltamos, a própria Unilab entregou a ocorrência que fizeram para o rapaz que cometeu o acidente, mas ele nunca foi chamado até hoje. A universidade é uma instituição brasileira que cria cooperações para trazer estudantes africanos, porém, não está respeitando o direito desses estudantes”, pontua Infande.
Fonte: Redação 4P
Fotos: Arquivo Pessoal
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