NÃO VOTEM NESSAS DESGRAÇAS
*Por Roberto Leal
São corjas de falsos protetores; são quadrilhas nepotistas de falsários e doutores; são exploradores dos humildes assalariados; carniças valorizadas com o dinheiro do erário; é politiqueiros vindos de lugar algum, são canalhas que estão indo para lugar nenhum.
São ladrões legalizados pela sua imunidade; são vagabundos credenciados pelo brasão da impunidade; são adoradores de Lúcifer com seguidores mendigados, à custa de migalhas e restos de voluntários; são safados surfando no mar de lama com sua onda nacional; são sacerdotes de Satanás, pregando falsamente a palavra do Deus celestial.
São aproveitadores que se valem da ignorância do povo, para furtarem a sua confiança de uma forma e de outro; são sequestradores da sua dignidade, que se prevalecem da sua fome e da sua desigualdade; são sujos e imundos que enriquecem à custa da lavagem da sua alma já descrente; são caçadores de operários e humildes inocentes.
São perversos senhores a chicotear a sua carne quase nua; são assaltantes dos seus direitos que são jogados pelas ruas; são desbravadores das nossas comunidades, onde escravizam e matam usando os seus disfarces; são curandeiros que usam instrumentos para lhes rasgarem o corpo, a mercê de promessas de saúde para o povo.
São discípulos do Diabo que chegam à sua vida, para lhe destruir os seus sonhos e abrir as suas feridas; são a ruína da Nação, que sangra diante do vicio que o capitalismo promove, em favor do seu próprio bolso e da miséria que nos move; é a desgraça de uma juventude, que se esconde, por trás de nomes, entidades, igrejas e reles codinome.
Vamos fazer justiça de uma forma democrática, para que nossos filhos não sejam próximas vítimas catedráticas; assumindo as falcatruas de gabinetes imaginários, que vestem camisas de saudosos revolucionários... Morte a essa doença em prol da cura do Sistema!
*Jornalista, escritor e editor da revista de Literatura Òmnira,
é também presidente da UBESC – União Baiana de Escritores.
*Por Roberto Leal
Liderança e Humildade Comunitária
*Por Roberto Leal
Traduzindo um meu pensamento que diz “Um líder, ele é odiado por muitos, mas, amado por muitos outros!”. Líder Comunitário: substantivo de dois gêneros. Indivíduo que tem autoridade para comandar ou coordenar outros, o que não é verdade! E sim, pessoa cujas ações e palavras exercem influência sobre o pensamento e comportamento de outras pessoas, essa seria talvez a melhor colocação para essas pessoas que exercem importante trabalho nas Comunidades; principalmente nos dias de hoje, com a invasão da política das facções, os toques de recolher, as siglas, os códigos e o extermínio da juventude abandonada no Gueto (já não podemos mais falar - cuidado). Como entre a liderança e humildade comunitária existem as criticas, o perigo, o povo e um só personagem: o líder comunitário.
Comunitário é aquilo que é comum a todos que vivem em determinadas localidades (bairros, povoados, cidades, aglomerados etc.) já parte daí a direta ação de que é também povo, gente, habitantes, moradores e vem também daí a necessidade de se ter uma voz mais firme, um braço mais forte, uma caneta com mais tinta, uma cabeça pensante para que não se detenha nos seus dotes e conteúdos oficiais de como buscar através dos mecanismos legais, aqueles direitos adquiridos, aquela parceria inovadora e de beneficio para todos nessa sociedade comunitária... Comunitário é quando se deve deixar de pensar unitariamente e passa-se a pensar as centenas e aos milhares, é quando a preocupação sobe a cabeça e nada está bom, quando a realidade do povo se é retratada em desrespeitos aos seus direitos, descasos e abandonos abusivos, anti-sociais e de exclusão nessas mesmas Comunidades. São escritos em formas de lei que não é cumprida e se quer respeitada! O líder comunitário deve e na sua maioria trabalha também com a crítica, tanto construtiva quanto destrutiva tendo sempre à frente a humildade, com disciplina e sem autoritarismo, buscando sempre o dialogo para vencer batalhas e correndo contra o tempo na sua dupla jornada... Seu pagamento: satisfação. Já que líder comunitário não é profissão.
Humildade: substantivo feminino. Qualidade de humilde. Virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações; do uso da modéstia e da simplicidade.
Crítica: substantivo feminino. Arte, capacidade e habilidade de julgar, de criticar; e de fazer juízo crítico. Atividade de examinar e avaliar minuciosamente uma produção artística, literária ou científica, bem como costumes e comportamentos, o que é neste momento o nosso caso.
Criticas sim! Mas, de preferência que elas sejam benéficas e venha carregadas de contribuições como: opinião, sugestão ou até mesmo exigência. Mas, as criticas destrutivas inclusive em excesso, elas são penetrantemente prejudiciais, principalmente ao metabolismo psicológico, pois vem na maioria das vezes, carregada de sentimentos mesquinhos, do tipo: inveja, concorrência, interesses outros e outros. É aquela coisa, que mesmo que não queiramos, mas, nos deixamos internamente abater, absorvemos de forma natural publicamente, mas, o cerebelo a partir daquele momento terá que trabalhar as respostas, as correções, controlar as possíveis oscilações de pensamentos, como também a armadura deve ser polida e vestida para na LUTA enfrentar aquele inimigo/maligno/inescrupuloso/espontâneo e ousado, que a luta de sobra ainda deve lhe mostrar que ele não estará sozinho, que com ele, estão outros “seguidores pernósticos” que compartilham do mesmo pensamento, da mesma opinião, aqueles mais conhecidos por “Maria vai com as outras”.
O cidadão que faz o papel de Líder Comunitário ele sofre também de todas as ações possíveis, mas, é agraciado de outro lado pelo maravilhoso trabalho que faz na LUTA em benefício da classe proletariada e humilde. Não estamos em um jogo empatado e não penderá a balança para o lado que não seja o do bem, a história terá sempre um final feliz e quem ousa não contar histórias de que positivamente o mal nunca tenha vencido o bem?
O Prêmio Nobel da Paz 1994 - Mohamed Abdel Rahman Abdel Raouf Arafat al Qudwa al Husseini, mais conhecido como “Yasser Arafat”, morto em 11 de novembro de 2004, aos 75 anos, lúcido em um dos seus pensamentos dizia “um combatente nunca morre...” E o líder comunitário ele é um combatente.
*Roberto Leal
Jornalista (DRT/BA 3992), escritor e editor
é também Presidente da União Baiana de Escritores e
fundador do Movimento Literário Kutanga (in Angola).
Uma Conversa Poeticamente Lírica ou Literalmente Sensual
*Roberto Leal
No seu
primeiro livro solo Desejos de Mulher, a poetisa Zenaide Fernando
(Docinho de Mel) traz no seu estilo próprio, a efervescência da poesia
feminina, traz a magnitude da poética angolana caracterizada pela sensualidade
que habita o seu versejar... À sua maneira, ao seu repertório... Eis aqui a sua
poesia, a sua magia e sua psicologia dos pensamentos a mais.
Apesar de ser uma contemporânea da nova literatura angolana. E por que
não dizer africana, uma promissora revelação? Não devemos esquecer que os
emergentes estão aprendendo a administrar a força das palavras, estão podendo
tudo nesse momento atual, estão se descobrindo e desvendando os mistérios da
nova poesia, abastecendo de conteúdo a literatura lusófona, essa literatura que
tanto nos esforçamos para fazê-la acontecer... Levantado o véu
do ineditismo e os fazendo ver, se fazendo crer, que ler é uma questão também
de prazer.
Não pensem que é fácil, apresentar um livro de poesias, disfarçadamente
sensuais, supostamente líricas ou premeditadamente instigantes. Diante das
emoções, do prazer nocivo que corroí todos os vestígios de seriedade que possa
existir nos seus pensamentos e nas suas melhores atitudes... Acho que não propositadamente deve-se confundir poesia lírica com poesia
sensual. O que é a poesia lírica sem a poesia sensual, sem a porção
erótica do lirismo? Ambos os estilos se alimentam de sensualidade, que é uma forma de ser do corpo e da mente, como se um
instrumento de erotismo fosse. O que não significa vulgaridade... Ser sensual é
ter atitude, não existe pecado nenhum nisso!
“Desejos de Mulher” da poetisa Zenaide Fernando (Docinho de Mel), eu
classificaria na verdade como de literatura lírica, por ser um livro, de um
lirismo eclético... É que a poética sensual é vista
naquela poesia marcante, obcecada pelo prazer e altamente voltada para
embriagar casais, nas palavras desse apresentador. Já a poética lírica consiste numa forma de expressão dos sentimentos, das emoções, dos
desejos e dos conhecimentos... Ou os estilos se misturam e surgi ai um novo estilo? “Escrevo
Poesia Lírica... E vivo a poesia! Represento sentimento que a alma adormece às
vezes, a "sensualidade", a autora diz ser lírica a sua poesia.
“Desejos de Mulher” é daquelas obras literárias que se vai ganhar
simpatia no primeiro contato e ao primeiro toque... Principalmente para o
leitor masculino, que usufruirá os deleites do doce que pinga dos lábios, das
chances de tê-la em seus braços, perfumando os seus dias e atraindo seu gozo
perante a própria leitura também... É natural que será um instrumento da
malícia em algum momento, vivida dentro da própria autora e que leitoras também
poderão aderir e ser a Docinho de Mel da sua casa, da sua cama e também
confessar seus amores, dores, sabores e dissabores, aos quatro cantos. “A
minha vertente sensual é mesmo com o objectivo de quebrar tabus e transformar
os encontros entre homens e mulheres num clima em que quebrem a rotina e que
vivam activamente os momentos”, afirma Zenaide Fernando.
Poetizando
a sensualidade também se espanta males, de maneira a trabalhar a despudorização
da arte literária... Ramificando pensamentos... Construindo lendas poéticas...
Explorando a fertilidade das palavras... Buscando no bailado dos
dedos, no salivar das páginas, no decorrer da emoção, mergulhar no prazer de
ter aquela preciosidade nas mãos, derramando por entre momentos e perceber que
nem tudo se apaga, no abortar das sensações, no fechar das cortinas, quando o espetáculo
termina, um episódio que está apenas começando... Essa obra tem o poder de
domar pensamentos, o que reverencia esse estilo e credencia essa poetisa a ser
uma aposta. Compartilhada em um estágio de lapidação já iniciado, uma grande
promessa!
“Poemas da Docinho de Mel” está no facebook, desde 25 de Março de 2013, é a página onde a autora se dedica a poesia, não apenas como hobby, mas, também pelo prazer de transmitir seus pensamentos poéticos, com sua sensualidade inocente, porém consciente e transparente, de uma mulher cheia de verdadeiros desejos, que transborda sensualidade a cada verso. Confidencio, que fiquei em êxtase lendo o livro, quase tive uma overdose de pensamentos e atos, vestindo personagens diante das mensagens, do conjunto de poesias, dos encaixes temáticos e dos beijos abundantes, cuidadosamente jogados a critério, sobre o colo do bacana do leitor, que procurando entretenimento cultural, acha mais que isso, levando para casa, essa coisa gostosa, que são os desejos de uma mulher, os desejos de várias outras mulheres!
Se for um novo estilo ou não, se é lírica ou sensual, agora não vai
importar... Você é quem vai ter o prazer de escolher, em que estágio da nova
poesia estará!
*É jornalista, escritor e editor da
revista de literatura Òmnira. Presidente da União Baiana de Escritores/Brasil e
membro-fundador do Movimento Literário Kutanga/Angola. É autor de
“Cárcere de Poemas” (Ed Òmnira – 2000) e de “C’alô & Crônicas Feridas” (3ª
edição), Ed. Òmnira/BA-Brasil-2015.
Castro Alves in Memoriam Poética
*Roberto Leal
Os brasileiros de hoje deveriam
não comemorar só o dia 14 de março, dia internacional da poesia, nascimento do
poeta Castro Alves, como também sua morte no próximo dia 6 de julho, dia do seu passamento, como também tomar conhecimento
do que, normalmente, ele significou. Morrendo aos 24 anos do mal do século XIX-
a tuberculose -, a temática que abordou indica participação e atualidade... Primeiro,
contra as monarquias, pois estavam autoritárias, sem Constituição, ou sem a sua
aplicação, e o ideal politico do liberalismo indicava a República e, assim,
Castro Alves adotou os ideais republicanos. Segundo, Castro Alves, mais que
todos os românticos e políticos nacionais, lutou pela liberdade dos escravos.
Seus poemas, como Navio Negreiro e outros, não têm
comparação com nenhum dos poetas brasileiros, inclusive Fagundes Varela, ao
qual Castro Alves considerava o grande poeta dessa época. Lembrar que, com tão
poucos anos de vida, Castro Alves, além de latim, falava, escrevia e traduzia
francês, tendo ainda visão generalizada da língua inglesa, assim como da
italiana e espanhola... Se não era um poliglota, tinha ao menos conhecimento da
estrutura de varias línguas. Traduzia e adaptava Victor Hugo, Lamartine, Henry
Murger, D. Guilhermo Gana, Musset, Espronceda e semelhantes, com os pulmões
furados, boêmio, tendo perdido por infeliz acaso o pé esquerdo (tiro próprio
inesperado), demonstrava a grandeza intelectiva, o talento e mesmo a
genialidade do poeta. Sua genialidade não vem, evidentemente, de ter conhecido
línguas e feito traduções, mas de sua
inspiração e intuição em um século de puro racionalismo.
Seus versos é que são geniais, o
tom, pathos, sem se falar que varias de suas poesias foram cantadas, é ouvir
cantar Andréa Daltro e que ele cantava, colocou a modinha em alto estilo na
poesia nacional. Teatrólogo, sua maior amante, a portuguesa e mulher de teatro
Eugênia Câmara, levou a fazer publico, em Recife, Salvador e São Paulo, com o
seu drama o Gonzaga. Pintava, desenhava, conhecia música. Chegar a tanto aos 24
anos é simplesmente notável. A temática negra, em trabalhos fora do comum, em
qualquer país que então tratou da negritude, Vozes d’África, poemas fotográficos
sobre a vida do negro e seu sofrimento, sua existencialidade brasileira,
ultrapassam elogios.
Pedro Calmon e Afrânio Peixoto
deixaram livros definitivos sobre Castro Alves que as novas gerações deveriam ler
estudar, analisar e ver as dimensões “castroalvinas”. O saudoso poeta recitador
da obra Castroalvina, antes da geração Marcos Peralta, Eduardo Teles que
escreveu “Castro Alves e o Sonho de
Liberdade” – Selo Letras da Bahia/2001 e do jornalista e advogado Osvaldo Devay
de Sousa pode-se ler “Castro Alves e outras epigrafe” – Ed.
Independente em homenagem aos 40 anos da UFBA. Mais um detalhe: Castro Alves era
poeta ecológico, sem esse nome poeta amante da natureza, um penenteísta em
filosofia (Deus em tudo e tudo em Deus).
*Roberto Leal
Jornalista (DRT/BA 3992),
é também Presidente da União Baiana de Escritores.
Literatura angolana hoje
*Germano Machado
Falar
sobre a literatura angolana é uma convocação ao estabelecimento de várias
pontes. Resgate duplamente necessário, no que tange ao pensamento brasileiro.
Por dois aspectos essenciais, que dizem respeito ainda mais à literatura
baiana, se assim posso denominá-la. Por um lado, uma africanidade, presente em
nosso povo, em nossa fala, em nosso corpo. Em nossas cores, em nossos cantos,
em nossas crenças. Por outro lado, a língua portuguesa oficial, que nos integra
a uma comunidade lusófona maior. Cada um desses aspectos envolve um universo de
possibilidades de análise, reflexão e pensamento. Ambos se conjugam e se
configuram de forma diferente e multifacetada, tanto na Bahia/Brasil como em
Angola.
Este
paralelo foi realizado com a crença de que os elementos comuns das duas
culturas possibilitam chaves de análise oportunas para a percepção das
diferenças, tanto no mais distante, quanto no mais sutil, na filigrana do
escrever. Através da constatação destas aproximações e distanciamentos, novos
discursos podem ser concretizados. Olhar para a literatura de Angola é olhar o
próximo e o distante, identidade e alteridade. Apesar de tantos pontos em
comum, de formas diferentes, salienta-se o fato da pouca visibilidade da
literatura angolana em terras brasileiras, fenômeno certamente influenciado por
barreiras etnocêntricas que privilegiam o legado de uma matriz, a saber, a
europeia. Dado este contexto, qualquer esforço de descortinamento desta
literatura tão rica deve ser digno de nota, de menção, de louvor. Pela coragem
de olhar além do que o cânone impõe. Pela consciência de buscar outros falares,
que expressam diversidade pensamental.
A
Professora Carmen Lúcia Tindó Secco, pesquisadora da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (2008), publicou importante trabalho sobre a literatura lusófona
em África, no qual discorre sobre importantes nomes da escrita angolana. A
autora apresenta ao leitor antídotos para pré-conceitos vigentes sobre o tema, propiciando
um contato mais próximo com a literatura em questão, tanto no verso, quanto na
prosa. Explicando o nome de sua obra, “A magia das letras africanas”, ela
desdobra as diferentes acepções da palavra “magia”, para além do que tradicionalmente
se conhece. Transcende este olhar limitante, que restringe o termo a
“bruxaria”, “feitiçaria”, impregnado pelo preconceito nefasto contra as crenças
africanas. Em ampliação, ela traz o sentido de encantamento, da leitura que
prende a atenção, através de uma história bem contada, com base na oralidade
dos mitos, dos contos, dos ditos populares, plenos de uma sabedoria condensada
e sobreposta através dos séculos, por várias pessoas. Um saber coletivo que se
torna base para uma produção poética e subjetiva na atualidade, a partir do
momento em que oferece chaves de interpretação da conjuntura histórica.
A
escrita angolana possui a magia da palavra que nomeia e, por isso mesmo,
permite agir sobre o mundo das coisas. A autora ainda fala que essa magia é
passada da oralidade para a escrita, conservando sua espontaneidade e
plasticidade semântica, na reconstrução de possibilidades de uso. Antigo saber
que se reinventa através da flexibilidade mesma que a oralidade possui. A
consciência dos seus autores traz importantes elementos para análise deste
processo, faz-se mister citar importantes autores angolanos, e algumas de suas
obras, mencionados por Secco (2008) em seus ensaios:
- Manuel Rui (1941-): importante autor de
verso e prosa, seu trabalho tem grande presença de temas sociais, mas sem
perder de vista a poética e a influência das narrativas ancestrais. Relação
criativa com a política, ao passo que sua escrita também tem poder político ao
exprimir anseios de ordem social.
-
Agostinho Neto (1922-1979): através do seu texto “Náusea”, relaciona a água à
origem mítica africana e a história de Angola. O personagem central, o velho
João, é mostrado em seu nível existencial e social. Outra relação existente é o
mito e a história. O mito de uma divindade local (atemporal) torna-se fio
condutor da vida do personagem (temporal).
- Pepetela
(1981-): em seu livro Mayombe, une mitologia africana e ideais revolucionários.
Unindo elementos das mitologias grega e africana, cria uma alegoria aos
guerrilheiros angolanos;
- Luandino
Vieira (1935-): mostra a importância e a sabedoria de grupos marginalizados,
como idosos, crianças e pessoas com necessidades especiais. Questiona a
sociedade, através da ruptura com a norma linguística, ultrapassando o regional
ao abordar o universal.
- Boaventura
Cardoso (1944-): que retrata os múltiplos discursos sociais da Angola
pós-independência, criando um panorama desta época, através de sua obra Maio,
mês de Maria.
- Arlindo
Barbeitos (1940-): que mostra as dificuldades e o ambiente árduo, marcado pelos
conflitos armados em Angola. Além de beber da tradição do seu país, renovou a
poética e também realizou crítica social.
- Paula
Tavares (1952-): sua poesia tem como referência a cultura do sul de Angola, com
grande influência da tradição oral, como os provérbios, um saber popular,
transmitido de forma oral. Outros autores demonstraram a importância social da
poesia, revelando uma produção que dialoga com sua realidade política,
recorrendo ao passado mítico como base. Esta renovação, ocorrida principalmente
nos anos 80 e 90 do Século XX, traz a poesia como resistência. Nomes
significativos desta vertente são: José Luís Mendonça, João Maimona, Paula
Tavares, João Melo, Lopito Feijóo, Frederico Ningi, Fernando Kafukeno e outros
do mesmo alto valor. Como cronistas da história de seu país, ainda assim
retratam seu tempo com a singularidade de cada olhar. Os poetas pertencem ao
mesmo contexto, mas os poemas carregam os matizes da percepção de cada um.
Nesta mesma paleta de cores diversas, encontram-se desde Carla Queiroz (Secco,
2008), e a descrença na conjuntura social do seu país, a Agostinho Neto, que
lutou pela libertação de Angola e pela criação de uma poesia nacional, o que
mostra e demonstra a criatividade desses autores.
A
produção poética angolana contemporânea é marcada por heterogeneidade, da
tradição de oralidade à sua ruptura. Apesar do desencanto, provocado pelas
contradições sociais, os poetas continuam com um versejar crítico, estimulando
o povo angolano a refletir sobre os próprios sofrimentos e sua superação. Em
todos os matizes que se apresenta, a poesia angolana é marcada pela resistência.
O esforço poético que se caracteriza por vislumbrar além, como salienta a
autora, “(...) a poesia se oferece ainda como força geradora de utopia, pois os
poetas continuam a crer no poder da linguagem poética (...)” (SECCO, 2008, p.
308). A literatura angolana, com a influência da oralidade, resgata elementos
do passado, mas está com os dois pés no século XXI. Elementos de sua tradição
em narrativas são reconfigurados por autores contemporâneos, num processo de
verdadeira síntese estilística, na qual passado e futuro não necessariamente
entram em conflito, mas se encontram e tudo superam em ordenamento de
continuidade progressista.
- Professor, jornalista, escritor e
filosofo. Fundador do CEPA – Círculo de Estudo Pensamento e Ação,
movimento educativo-cultural com 63 anos de existência, membro das
Academias Baiana de Educação, Letras e Artes do Salvador e Mater Salvatoris.
Autor de 17 livros dentre ele “Os Dois Brasis” Ed. CEPA/BA-Brasil 2014. Esse texto é parte integrante da apresentação da Coletânea Poética KIXIMANU com escritores brasileiros e angolanos.
A África, a união africana e o empenho de Agostinho Neto
*John Bella
A África tinha sido
partilhada pelos europeus, na infame Conferência de Berlim realizada entre 1884
a 1885. O que se seguiu foi a exploração praticada pelas nações europeias, no
contexto social, político e económico sobre parcelas de territórios que se
chamavam colónias. Antes porém, já tinha existido a sangria da população que em
séculos anteriores fora levada brutalmente para as Américas, obrigada a
trabalhar na condição escrava. Os que ficaram, mesmo logo depois da suposta
abolição do trabalho escravo, ainda eram obrigados a produzir riqueza para as
potências colonizadoras, fazendo com que rapidamente a Europa se desenvolvesse,
tendo atingido a Revolução Industrial, inicialmente pela Inglaterra. Para os
africanos, sempre o pior trabalho aliado à discriminação, em todos os sectores
da vida social, motivando o subdesenvolvimento que até hoje se assiste.
Depois de terminada
a segunda guerra mundial, uma nova era se abria, pois a 10 de Dezembro de 1948
foi decretada a carta das Nações Unidas, em defesa dos direitos fundamentais da
pessoa humana. Numa das cláusulas, o documento defende a autodeterminação dos
povos e a eliminação de todas as formas de exploração estrangeira, males que
ainda assolavam a África. Não tardou, começaram a surgir líderes no continente
que queriam libertá-lo do colono. Nesta senda destacaram-se os nomes de Kwame Nkrumah,
Leopold Sedhar Senghor, Julius Nyerere, Kenneth Kaunda, Jomo Kenyatta, entre
outros, considerados os pais das primeiras independências africanas.
É assim que a 25 de
Maio de 1963, quando mais de trinta países em África já se tinham tornado
independentes, os Chefes de Estado e de Governo dessas Nações reuniram-se para
a criação da Organização de Unidade Africana (OUA) que hoje evoluiu para União
Africana (UA). O principal objectivo dessa instituição era o de continuar a
lutar e dar todo o seu apoio, para que outros povos irmãos se tornassem
igualmente livres. É neste propósito que encontramos a figura incontornável de
António Agostinho Neto. Aliado a outros nacionalistas das colónias portuguesas,
como Amílcar Cabral, Eduardo Mondlane e outros, o seu sentimento de dor,
repulsa e angústia pelo sofrimento dos africanos vai estar espelhado na sua
poesia. Poemas como "Partida Para o Contrato",
"Contratado", "As Terras Sentidas de África",
"Bamako", "Massacre de S.Tomé", "Fogo e Ritmo",
"Pausa", fundamentam os dizeres.
Aliado a isso, os
seus artigos em revistas e outros periódicos, as conferências na Casa dos Estudantes
do Império, em Lisboa, onde se iria formar em Medicina, bem como noutros
lugares, vão denunciar cada vez mais a discriminação que o africano sofria. Nem
mesmo as sucessivas prisões por onde o encarceravam, com o objectivo de o
silenciarem, os aliciamentos para a riqueza pessoal e outras formas de suborno
que sempre rejeitou foram capazes de o calar e fazer parar o homem determinado
a dar o seu contributo, para acabar com a injustiça. Quando sentiu que palavras
apenas não bastavam, para convencer os opressores a abdicarem de formas cruéis
e discriminatórias aceitou a difícil mas honrosa tarefa, quando seu nome foi
escolhido entre os demais, para a liderança da luta armada em Angola, já com a
visão de que, quando vencesse, o país teria porta aberta para a libertação
total de África.
Em 1975, depois de
proclamar a independência de Angola, Agostinho Neto acolheu todos os movimentos
que em África lutavam, contactando frequente e amigavelmente com seus líderes,
tendo mesmo afirmado que na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul estava a
continuação da nossa luta e que haveríamos de resistir até que o continente se
tornasse completamente livre. Tal como ansiou um dia, hoje o sacrifício e
empenho de Neto se tornou uma realidade. Todos os povos de África são independentes
do colonialismo. Mas a sua poesia continua actual, pois, se no poema "O
Caminho das Estrelas", ele indica uma meta, "para a harmonia do
mundo", nós, os homens que ficamos, ainda não concretizamos este
objectivo. A África e em algumas partes do mundo continuam com problemas, aos
que poderemos ir ultrapassando, seguindo os ensinamentos e ideais de líderes
como Neto, lendo seus discursos políticos, ao entender sua mensagem poética.
*Jorge Marques
Bella ou John Bella ex-deputado, escritor, palestrante, pesquisador e Diretor
de Comunicação e Imagem do Instituto Agostinho Neto. Tem publicados os livros
“Os Primeiros Passos da Rainha Njinga” e “O Regresso da Rainha Njinga” Ed. O
Cão que Lê/Portugal 2012. É representante da Revista Òmnira em Angola.
A África tinha sido
partilhada pelos europeus, na infame Conferência de Berlim realizada entre 1884
a 1885. O que se seguiu foi a exploração praticada pelas nações europeias, no
contexto social, político e económico sobre parcelas de territórios que se
chamavam colónias. Antes porém, já tinha existido a sangria da população que em
séculos anteriores fora levada brutalmente para as Américas, obrigada a
trabalhar na condição escrava. Os que ficaram, mesmo logo depois da suposta
abolição do trabalho escravo, ainda eram obrigados a produzir riqueza para as
potências colonizadoras, fazendo com que rapidamente a Europa se desenvolvesse,
tendo atingido a Revolução Industrial, inicialmente pela Inglaterra. Para os
africanos, sempre o pior trabalho aliado à discriminação, em todos os sectores
da vida social, motivando o subdesenvolvimento que até hoje se assiste.
Depois de terminada
a segunda guerra mundial, uma nova era se abria, pois a 10 de Dezembro de 1948
foi decretada a carta das Nações Unidas, em defesa dos direitos fundamentais da
pessoa humana. Numa das cláusulas, o documento defende a autodeterminação dos
povos e a eliminação de todas as formas de exploração estrangeira, males que
ainda assolavam a África. Não tardou, começaram a surgir líderes no continente
que queriam libertá-lo do colono. Nesta senda destacaram-se os nomes de Kwame Nkrumah,
Leopold Sedhar Senghor, Julius Nyerere, Kenneth Kaunda, Jomo Kenyatta, entre
outros, considerados os pais das primeiras independências africanas.
É assim que a 25 de
Maio de 1963, quando mais de trinta países em África já se tinham tornado
independentes, os Chefes de Estado e de Governo dessas Nações reuniram-se para
a criação da Organização de Unidade Africana (OUA) que hoje evoluiu para União
Africana (UA). O principal objectivo dessa instituição era o de continuar a
lutar e dar todo o seu apoio, para que outros povos irmãos se tornassem
igualmente livres. É neste propósito que encontramos a figura incontornável de
António Agostinho Neto. Aliado a outros nacionalistas das colónias portuguesas,
como Amílcar Cabral, Eduardo Mondlane e outros, o seu sentimento de dor,
repulsa e angústia pelo sofrimento dos africanos vai estar espelhado na sua
poesia. Poemas como "Partida Para o Contrato",
"Contratado", "As Terras Sentidas de África",
"Bamako", "Massacre de S.Tomé", "Fogo e Ritmo",
"Pausa", fundamentam os dizeres.
Aliado a isso, os
seus artigos em revistas e outros periódicos, as conferências na Casa dos Estudantes
do Império, em Lisboa, onde se iria formar em Medicina, bem como noutros
lugares, vão denunciar cada vez mais a discriminação que o africano sofria. Nem
mesmo as sucessivas prisões por onde o encarceravam, com o objectivo de o
silenciarem, os aliciamentos para a riqueza pessoal e outras formas de suborno
que sempre rejeitou foram capazes de o calar e fazer parar o homem determinado
a dar o seu contributo, para acabar com a injustiça. Quando sentiu que palavras
apenas não bastavam, para convencer os opressores a abdicarem de formas cruéis
e discriminatórias aceitou a difícil mas honrosa tarefa, quando seu nome foi
escolhido entre os demais, para a liderança da luta armada em Angola, já com a
visão de que, quando vencesse, o país teria porta aberta para a libertação
total de África.
Em 1975, depois de
proclamar a independência de Angola, Agostinho Neto acolheu todos os movimentos
que em África lutavam, contactando frequente e amigavelmente com seus líderes,
tendo mesmo afirmado que na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul estava a
continuação da nossa luta e que haveríamos de resistir até que o continente se
tornasse completamente livre. Tal como ansiou um dia, hoje o sacrifício e
empenho de Neto se tornou uma realidade. Todos os povos de África são independentes
do colonialismo. Mas a sua poesia continua actual, pois, se no poema "O
Caminho das Estrelas", ele indica uma meta, "para a harmonia do
mundo", nós, os homens que ficamos, ainda não concretizamos este
objectivo. A África e em algumas partes do mundo continuam com problemas, aos
que poderemos ir ultrapassando, seguindo os ensinamentos e ideais de líderes
como Neto, lendo seus discursos políticos, ao entender sua mensagem poética.
*Jorge Marques
Bella ou John Bella ex-deputado, escritor, palestrante, pesquisador e Diretor
de Comunicação e Imagem do Instituto Agostinho Neto. Tem publicados os livros
“Os Primeiros Passos da Rainha Njinga” e “O Regresso da Rainha Njinga” Ed. O
Cão que Lê/Portugal 2012. É representante da Revista Òmnira em Angola.
Kiximanu a Angola
*Roberto Leal
A África acorda aguerrida a
cada dia, fortificada e generosa, quando aquece o seu crescimento cultural, o
desenvolvimento patrimonial e a reconstrução da sua língua, mostrando que não
quer ser somente uma negra e não ser lembrada só por si chamar: África. Ela
quer ser a mãe desse povo, ela quer dar de mamar a essa gente, dar de comer e
beber a esses filhos, ela quer dar amor, carinho e acolher nos braços todos os
seus rebentos, como também quer carregar na lembrança todos os corações que desencarnaram
no campo de batalha, carregando suas armas, seus objetivos e sua vontade de se
ver livre, de ser um filho reconhecido do mundo. Educado pela luta que a mãe se
fez defesa!
A nossa África é mulher, é mãe
e é também uma história encantadora, uma silhueta amada tão quanto sedutora,
sobreviveu aos ataques racistas e coloniais de uma retaliação branca,
fantasmagórica e devastadora que não lhe marcou a própria beleza. Essa mãe que
derramou lágrimas a rio, embasando sorrisos
e despertando multidões em favor da sua *Òmnira. Mãe que sempre queria proteger
todos os seus filhos e amá-los então em grande escala, alimentá-los com o seu
aconchego latente e extremamente patriótico, onde sua cor sempre quis muito
dizer, para sustentar a todos nas trincheiras a espreitar seus inimigos.
A África que foi escrita com
versos de amor e sangue, que não cessou disparos sem ter que derramar tantas
lágrimas, que vidas foram dizimadas nas minas do solo sagrado e enegrecido, que
mutilou muitos sonhos e pensamentos, carregou a história para o lado mais
sangrento da cultura, da arte e da poesia, que acorda de um grande pesadelo e
almeja muito a ascensão da sua palavra, dos seus ensinamentos, em apontamentos
deixados e marcados em bala de fuzis, que se irão levar muito além de alarmantes
lembranças e do que sobrou da família.
Um dos seus filhos de África
chama-se Angola, negra bonita e elegante em suas lantejoulas brilhantes;
robusta nas águas do oceano que insiste em lhe roçar a pele; cantante nos
passos da música e da consonante poética nos versos libertários de Agostinho
Neto. Feliz agora ela requebra ao som do Kuduro, desfila em passos pausados nas
curvas torneadas de Nazaré, que banha o corpo já sedento de prazer nas águas de
Luanda, recitando poesia nas Províncias de uma liberdade presenteada por Deus,
que só a angolanidade pertence e sem querer ser injusto, esquecer a presença
holandesa dos Van-dúnem que foi ali quando tudo começou... Kiximanu a Angola!
África e Literatura Hoje na Globalização
*Germano
Machado
Marcelino dos Santos, poeta e político
Moçambicano, nascido em 1929, fundador do Frélimo ( Frente de Libertação de
Moçambique) e quando o país tornou-se independente chegou a Ministro da
Planificação e Desenvolvimento, afirma : “ os poetas foram os primeiros grandes
líderes revolucionários em África. Primeiro, nós escrevemos poemas com sentido
de libertação com o “ é preciso plantar” ( de 1953) terminando com os versos :
“ é preciso plantar / pelos caminhos da liberdade / a nova árvore / da
Independência Nacional”. Marcelino dos Santos usou pseudônimos como Kalunga e
Lilinho Micaia explica que a prevalência do português e seu uso após a
independência teve motivo decisivo : “ nós queríamos integrar o Continente. A
nossa poesia dava conta de problemas comuns a toda África. Adotar a língua
portuguesa foi uma estratégia, já que a pluralidade de idiomas e o enorme
analfabetismo, dificultavam a difusão de nossas linhas libertárias”.
A expansão da língua português deu-se devido aos vários idiomas, em parte desaparecidos. Moçambique possuía 20 idiomas. Angola o “ português “ e o “quimbundo” defrontavam-se. Houve uma espécie de “ nacionalização” daquela pelos africanos.
Para o intelectual africano José Luandino Vieira, o “ português” representou um “ troféu de guerra”. Defendeu , uma independência de Angola, que esse era o idioma oficial do país.
Registre-se : o escritor Luis Bernado Honwana, natural de Maputo, autor de “ Nós matamos o cão Tinhoso” ( contos), “ a língua portuguesa é nossa também” , quando palestrava na Universidade de Minnesota – Estados Unidos, em 1979 e a platéia observou o fato. A pergunta era : “ Por que, após a independência os escritores de Moçambique não abandonaram a língua do colonizador?” Explicou : “ Com a independência a literatura em África toma, igualmente, um tom satisfeito e a “ nacionalização da língua portuguesa é eivada de neologismos, termos idiomáticos e misturas com palavras portuguesas”. A língua foi reinventada e continua na literatura contemporânea do continente afro”, explicou.
Assim, independentes, os escritores africanos defendem intensamente, em suas obras , a cultura africana própria e afirmam sua diversidade. Enriquecem o linguajar comum, mantêm a africanidade, fazem parte do português que é falado em todo o mundo. Há porém, criatividade e liberdade, sem padrões europeus, com normas cultas, alargando suas identidades.
Com essa formulação, os escritores africanos defendem plenamente a cultura e a diversidade africanas. Foi assim no romance “Mayombé”, de Pepetela, pseudônimo de Artur Carlos Mauricio Pestana dos Santos, já agora com mais de 16 romances publicados desde 1973. “Mayombé” escrito entre 71 e 73, lançado em 80 e renovando-se até hoje. Seus personagens têm nomes de guerra – “ Comandante sem Medo” e “ Comissário Político”. “ A dedicatória : “ Aos guerrilheiros de Mayombé, que ousaram desafiar os deuses.”
“ Mayombé” é um romance étnico. Depois das lutas de libertação e da relativa paz africana, o pós colonialismo se faz duro, mas firme. Em Angola, Manoel Rui lançou “Quem me dera ser onda”, mostra um porco habitante em um apartamento de família, causando transtornos: crítica de ironismo ao pós independência, novos ricos, populismo político e estrutura social que se precisa firmar.
Em 1985 Pepetela (Artur Carlos Mauricio Pestana dos Santos) publica “Yaka”, aspectos históricos retratando Benguela, sua cidade natal. “Yaka” é a estatua que acompanha de colonização. Em 1992, Pepetela lança “Geração de Utopia”, que completa e acrescenta fatores políticos “ O nascimento de um império”. Em Cabo Verde há poesia de João Varela (chamava-se também João Vário e Timótio Tio Tofe). Escreveu “o primeiro livro de Notcha, 1975. Ironicamente, o Moçambicano Germano de Almeida publica “ O meu poeta”, possivelmente o primeiro romance dessa nação.
Na Guiné-Bissau vê-se a obra de Abdulai Sila, com “Eterna Paixão”. Há no romance um personagem afro-americano e se mostra o pós- colonialismo de modo decepcionante. Em 97 vem “ Místida”, metafórico em seus personagens, esses perdem a memória, o dom da palavra, a visão decadência em paralelo ao tempo.
Em 97 ainda, Filinto de Barros, antigo dirigente do PAIGG ( Partido Africano para a independência de Guiné e Cabo Verde), Ministro na Guiné apresenta o romance “ Kikia Macho”.
África de 1957 a 2009 e crescendo até 2013 amadura embora dentro de guerras civis e caos social. O desenvolvimento de Pepetela é extraordinário: Ainda em 2008 leva ao público “ O Quase Fim do Mundo” . Em estilo, policial apresenta “ Jaime Bunda”, e a “ Morte do Americano”, paródia de James Bond, movimentado e original. Nesses livros trata do “neocolonialismo americano”. Em 2005 “ Predadores” desse intelectual denuncia “ As novas elites e o ambiente político favorecedor”.
Há de frisar-se o papel em literatura em geral dos angolanos José Eduardo Agualusa e Ana Paula Tavares e do Moçambicano Mia Couto. Agualusa tem mais de 20 publicações desde 89 – romances, novelas, poesias, contos, e guias, o que o levou a receber coleção de prêmios; seu primeiro romance “ A Conjura” ganhou Prêmio Sonangol. A poetisa ou poeta Ana Paula Tavares inicia-se com “Ritos de Passagem “. Publica também contos e, em coautoria , Os Olhos do homem que chorava no RIO, junto com Maoelo Jorge Marmelo. Em 2007, é seu ultimo trabalho “ Crônica Para Amantes Desesperados”.
Mia Couto, desde anos 80 publica poema “ Raiz de Orvalho” , continua escrevendo contos , depois aparece seu primeiro romance – “ Terra Sonâmbula”. Ganha Prêmio Virgilio Ferreira- dos mais importantes e valorizados em Portugal.
Nessa fase, desde Agualusa até Mia Couto que se desenvolvem cada vez mais vários autores já publicam fora de África e traduzidos mesmo para outros idiomas. África tem poucas editoras, mas os preços dos livros editados são impeditivos para os povos africanos em geral, nem sequer circulam nesse continente, os autores pouco se conhecem, salvo em eventos literários no exterior, porém a situação vai melhorando cada vez mais e melhor.
Muitos conheceram-se no Brasil, em Pernambuco e em outras partes no Rio e São Paulo.
Declarou, então, Paulina Chiziane, primeira romancista, assim considerada, de Moçambique e figura relevante fora de África : “ Não há dinheiro que financie arte literária em África. Não há condições de promovermos intercâmbio. Os livros só nos chegam através do Brasil ou de Portugal... “
Paulina afirma: “ Em Moçambique, há praticamente duas religiões : no sul e no interior a Cristã no litoral e ao norte a Muçulmana”. Fala Paulina em racismo entre os próprios africanos. Como a escritora Dina Salústio (Cabo Verde) é modesta em relação à sua obra : “ sou apenas mulher que escreve umas coisas...” Outra figura importante da literatura lusófona foi o jovem Onjdaki, 31 anos, 12 livros publicados ( contos, poesias e romances). É de Luanda. Guiné- Bissau tem representante, entre outros no poeta e jornalista Tony Tcheka (António Soares Lopes).
Geanfranco Rivasi, do Conselho de Cultura do Vaticano afiança: “A globalização mal – entendida, da qual são vítimas os países mais pobres ( refiro-me à África) leva a destruição de valores veiculados pelas tradições culturais ancestrais, à desestabilização das consciências e ao desarraigamento cultural de inteiras gerações induzidas em espiral que as conduz da pobreza à miséria...”
“A globalização – hoje – destrói África. Em 1885, África foi dividida entre países Europeus, na Conferência de Berlin. África do Sul ficou em mãos de holandeses e Ingleses até que, em fins do século 20, a luta de Mandela libertou-a, sendo ele seu primeiro Presidente. José Flavio Sombra Saraiva, Diretor Geral do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRE) declara : “ No subsolo africano estão concentrados os principais minerais estratégicos para a industria de alta tecnologia. Os 53 países são basicamente exportadores de petróleo, ouro, diamante, tungstênio, urânio e cobre. Mas só participam de 2% do comércio mundial e têm 1% da produção industrial do mundo todo”. “Dona de 66% do diamante, 58% do ouro, 45% do cobalto, 17% manganês, 15% bauxita, 15 % do zinco e 15% do petróleo, não é à – toa que África despertou a cobiça de outras potências emergentes, como a China... E também a Coréia do Sul, Índia, Turquia, Irã”. “ África está no centro de uma concorrência fortíssima de interesses de todas as partes do globo; na berlinda da cena internacional contemporânea”.
África passa fome inacreditável, dolorosa e vergonhosa à civilização; é analfabeta mais de 80% do conjunto de todo o Continente ; e, assim, como valorizar sua literatura, escritores, poetas, contistas, educadores de alto valor? Agora a partir de 1999 e 2009 – 2013 seus homens de letras estão sendo considerados e traduzidos nas línguas ditas importantes, inclusive português, inglês, francês e ainda alemã e o Brasil que faz pela África, nós, um povo majoritariamente mestiço e negro?
No livro Perguntas e Respostas do antigo Papa Bento XVI , Ed. Pensamento, S.P 2009 PP 36 ss , essa autoridade máxima da Igreja católica, afirma respondendo a um presbítero ( padre) africano: “ em muitas partes de sua África, porém ainda temos essa situação em que existem acima de tudo grupos étnicos dominantes. O poder colonialista impôs fronteiras nas quais agora desenvolver-se em um grande conjunto e de encontrar além das etnias, a unidade do governo democrático e também a possibilidade de opor-se aos abusos coloniais que perduram ainda. África continua sendo objeto de abusos por parte das grandes potências, e muitos conflitos não teriam assumido essa forma se os interesses dessas grandes potências não estivessem por trás deles...” E adiante : “ Numa palavra eu gostaria de dizer que África é um continente de grande esperança, de grande fé, de realidades... Mas é sempre também um Continente que, depois das destruições que ali levamos da Europa, tem necessidade da nossa ajuda fraterna. Esta é nossa grande responsabilidade neste tempo. A Europa exportou as suas ideologias, os seus interesses... ”
Pesquisa: Fontes – Suplemento Especial – África – A nova Literatura africana em conhecimento prático – Revista Literatura Nº24 2008. Agência Fides e Revista Mundo e Missão; Perguntas e Respostas do Papa Bento XVI, Pensamento, SP. 2009
*Germano Machado é Professor aposentado da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e da UCSAL (Universidade Católica do Salvador). Fundador do CEPA – Circulo de Estudo Pensamento e Ação.
A expansão da língua português deu-se devido aos vários idiomas, em parte desaparecidos. Moçambique possuía 20 idiomas. Angola o “ português “ e o “quimbundo” defrontavam-se. Houve uma espécie de “ nacionalização” daquela pelos africanos.
Para o intelectual africano José Luandino Vieira, o “ português” representou um “ troféu de guerra”. Defendeu , uma independência de Angola, que esse era o idioma oficial do país.
Registre-se : o escritor Luis Bernado Honwana, natural de Maputo, autor de “ Nós matamos o cão Tinhoso” ( contos), “ a língua portuguesa é nossa também” , quando palestrava na Universidade de Minnesota – Estados Unidos, em 1979 e a platéia observou o fato. A pergunta era : “ Por que, após a independência os escritores de Moçambique não abandonaram a língua do colonizador?” Explicou : “ Com a independência a literatura em África toma, igualmente, um tom satisfeito e a “ nacionalização da língua portuguesa é eivada de neologismos, termos idiomáticos e misturas com palavras portuguesas”. A língua foi reinventada e continua na literatura contemporânea do continente afro”, explicou.
Assim, independentes, os escritores africanos defendem intensamente, em suas obras , a cultura africana própria e afirmam sua diversidade. Enriquecem o linguajar comum, mantêm a africanidade, fazem parte do português que é falado em todo o mundo. Há porém, criatividade e liberdade, sem padrões europeus, com normas cultas, alargando suas identidades.
Com essa formulação, os escritores africanos defendem plenamente a cultura e a diversidade africanas. Foi assim no romance “Mayombé”, de Pepetela, pseudônimo de Artur Carlos Mauricio Pestana dos Santos, já agora com mais de 16 romances publicados desde 1973. “Mayombé” escrito entre 71 e 73, lançado em 80 e renovando-se até hoje. Seus personagens têm nomes de guerra – “ Comandante sem Medo” e “ Comissário Político”. “ A dedicatória : “ Aos guerrilheiros de Mayombé, que ousaram desafiar os deuses.”
“ Mayombé” é um romance étnico. Depois das lutas de libertação e da relativa paz africana, o pós colonialismo se faz duro, mas firme. Em Angola, Manoel Rui lançou “Quem me dera ser onda”, mostra um porco habitante em um apartamento de família, causando transtornos: crítica de ironismo ao pós independência, novos ricos, populismo político e estrutura social que se precisa firmar.
Em 1985 Pepetela (Artur Carlos Mauricio Pestana dos Santos) publica “Yaka”, aspectos históricos retratando Benguela, sua cidade natal. “Yaka” é a estatua que acompanha de colonização. Em 1992, Pepetela lança “Geração de Utopia”, que completa e acrescenta fatores políticos “ O nascimento de um império”. Em Cabo Verde há poesia de João Varela (chamava-se também João Vário e Timótio Tio Tofe). Escreveu “o primeiro livro de Notcha, 1975. Ironicamente, o Moçambicano Germano de Almeida publica “ O meu poeta”, possivelmente o primeiro romance dessa nação.
Na Guiné-Bissau vê-se a obra de Abdulai Sila, com “Eterna Paixão”. Há no romance um personagem afro-americano e se mostra o pós- colonialismo de modo decepcionante. Em 97 vem “ Místida”, metafórico em seus personagens, esses perdem a memória, o dom da palavra, a visão decadência em paralelo ao tempo.
Em 97 ainda, Filinto de Barros, antigo dirigente do PAIGG ( Partido Africano para a independência de Guiné e Cabo Verde), Ministro na Guiné apresenta o romance “ Kikia Macho”.
África de 1957 a 2009 e crescendo até 2013 amadura embora dentro de guerras civis e caos social. O desenvolvimento de Pepetela é extraordinário: Ainda em 2008 leva ao público “ O Quase Fim do Mundo” . Em estilo, policial apresenta “ Jaime Bunda”, e a “ Morte do Americano”, paródia de James Bond, movimentado e original. Nesses livros trata do “neocolonialismo americano”. Em 2005 “ Predadores” desse intelectual denuncia “ As novas elites e o ambiente político favorecedor”.
Há de frisar-se o papel em literatura em geral dos angolanos José Eduardo Agualusa e Ana Paula Tavares e do Moçambicano Mia Couto. Agualusa tem mais de 20 publicações desde 89 – romances, novelas, poesias, contos, e guias, o que o levou a receber coleção de prêmios; seu primeiro romance “ A Conjura” ganhou Prêmio Sonangol. A poetisa ou poeta Ana Paula Tavares inicia-se com “Ritos de Passagem “. Publica também contos e, em coautoria , Os Olhos do homem que chorava no RIO, junto com Maoelo Jorge Marmelo. Em 2007, é seu ultimo trabalho “ Crônica Para Amantes Desesperados”.
Mia Couto, desde anos 80 publica poema “ Raiz de Orvalho” , continua escrevendo contos , depois aparece seu primeiro romance – “ Terra Sonâmbula”. Ganha Prêmio Virgilio Ferreira- dos mais importantes e valorizados em Portugal.
Nessa fase, desde Agualusa até Mia Couto que se desenvolvem cada vez mais vários autores já publicam fora de África e traduzidos mesmo para outros idiomas. África tem poucas editoras, mas os preços dos livros editados são impeditivos para os povos africanos em geral, nem sequer circulam nesse continente, os autores pouco se conhecem, salvo em eventos literários no exterior, porém a situação vai melhorando cada vez mais e melhor.
Muitos conheceram-se no Brasil, em Pernambuco e em outras partes no Rio e São Paulo.
Declarou, então, Paulina Chiziane, primeira romancista, assim considerada, de Moçambique e figura relevante fora de África : “ Não há dinheiro que financie arte literária em África. Não há condições de promovermos intercâmbio. Os livros só nos chegam através do Brasil ou de Portugal... “
Paulina afirma: “ Em Moçambique, há praticamente duas religiões : no sul e no interior a Cristã no litoral e ao norte a Muçulmana”. Fala Paulina em racismo entre os próprios africanos. Como a escritora Dina Salústio (Cabo Verde) é modesta em relação à sua obra : “ sou apenas mulher que escreve umas coisas...” Outra figura importante da literatura lusófona foi o jovem Onjdaki, 31 anos, 12 livros publicados ( contos, poesias e romances). É de Luanda. Guiné- Bissau tem representante, entre outros no poeta e jornalista Tony Tcheka (António Soares Lopes).
Geanfranco Rivasi, do Conselho de Cultura do Vaticano afiança: “A globalização mal – entendida, da qual são vítimas os países mais pobres ( refiro-me à África) leva a destruição de valores veiculados pelas tradições culturais ancestrais, à desestabilização das consciências e ao desarraigamento cultural de inteiras gerações induzidas em espiral que as conduz da pobreza à miséria...”
“A globalização – hoje – destrói África. Em 1885, África foi dividida entre países Europeus, na Conferência de Berlin. África do Sul ficou em mãos de holandeses e Ingleses até que, em fins do século 20, a luta de Mandela libertou-a, sendo ele seu primeiro Presidente. José Flavio Sombra Saraiva, Diretor Geral do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRE) declara : “ No subsolo africano estão concentrados os principais minerais estratégicos para a industria de alta tecnologia. Os 53 países são basicamente exportadores de petróleo, ouro, diamante, tungstênio, urânio e cobre. Mas só participam de 2% do comércio mundial e têm 1% da produção industrial do mundo todo”. “Dona de 66% do diamante, 58% do ouro, 45% do cobalto, 17% manganês, 15% bauxita, 15 % do zinco e 15% do petróleo, não é à – toa que África despertou a cobiça de outras potências emergentes, como a China... E também a Coréia do Sul, Índia, Turquia, Irã”. “ África está no centro de uma concorrência fortíssima de interesses de todas as partes do globo; na berlinda da cena internacional contemporânea”.
África passa fome inacreditável, dolorosa e vergonhosa à civilização; é analfabeta mais de 80% do conjunto de todo o Continente ; e, assim, como valorizar sua literatura, escritores, poetas, contistas, educadores de alto valor? Agora a partir de 1999 e 2009 – 2013 seus homens de letras estão sendo considerados e traduzidos nas línguas ditas importantes, inclusive português, inglês, francês e ainda alemã e o Brasil que faz pela África, nós, um povo majoritariamente mestiço e negro?
No livro Perguntas e Respostas do antigo Papa Bento XVI , Ed. Pensamento, S.P 2009 PP 36 ss , essa autoridade máxima da Igreja católica, afirma respondendo a um presbítero ( padre) africano: “ em muitas partes de sua África, porém ainda temos essa situação em que existem acima de tudo grupos étnicos dominantes. O poder colonialista impôs fronteiras nas quais agora desenvolver-se em um grande conjunto e de encontrar além das etnias, a unidade do governo democrático e também a possibilidade de opor-se aos abusos coloniais que perduram ainda. África continua sendo objeto de abusos por parte das grandes potências, e muitos conflitos não teriam assumido essa forma se os interesses dessas grandes potências não estivessem por trás deles...” E adiante : “ Numa palavra eu gostaria de dizer que África é um continente de grande esperança, de grande fé, de realidades... Mas é sempre também um Continente que, depois das destruições que ali levamos da Europa, tem necessidade da nossa ajuda fraterna. Esta é nossa grande responsabilidade neste tempo. A Europa exportou as suas ideologias, os seus interesses... ”
Pesquisa: Fontes – Suplemento Especial – África – A nova Literatura africana em conhecimento prático – Revista Literatura Nº24 2008. Agência Fides e Revista Mundo e Missão; Perguntas e Respostas do Papa Bento XVI, Pensamento, SP. 2009
*Germano Machado é Professor aposentado da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e da UCSAL (Universidade Católica do Salvador). Fundador do CEPA – Circulo de Estudo Pensamento e Ação.
Disse-que me-disse
*Roberto Leal
E o disse-que-me-disse continua... Que a Dilma é um politico com a cara do Brasil e que o PT mete medo em muita gente... Estão dizendo por aí, que a justiça está escorregando para o esgoto que nem quiabo e os políticos lá em Brasília estão ganhando pouco e trabalhando muito... Comenta-se por todos os lugares, que a música baiana e a dança da garrafa entrarão como matéria no currículo escolar ainda nesse novo milênio, que o aumento do próximo salário mínimo vai ser de 200% e que a Policia Federal tem sido tão competente quanto a CIA e a KGB.
Fala-se a altos brados, que pobre vai comer caviar e não vai se engasgar, que o carnaval vai ser extinto por vontade do povo e que Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo é um paraíso seguro para turistas e visitantes... Estão dizendo por aí, que a saúde pública é prioridade do governo federal, que as reformas são tão velhas que dispensam qualquer tipo de restauração e que o diabo vai abandonar o inferno para frequentar a Igreja Universal.
Comenta-se por todos os lugares, que as drogas serão liberadas, que o nosso país está vendido, que os homens já não se embebedam e que não existe inflação... Fala-se a altos brados, que a seca no Nordeste é uma trajetória econômica das empresas de água e saneamento, que a criminalidade e o desemprego são coisas de rico e que os banqueiros estão cada dia se endividando mais.
Estão dizendo pelos quatro cantos do mundo, que a paz é uma questão de tempo, que o terrorismo também é politica e que a fome é exclusividade dos países de primeiro mundo... Comenta-se em todos os lugares, que a moeda brasileira se chamará dólar, que a imprensa internacional é uma caixinha de surpresa, cheio de boas intenções e de boas notícias e que o Vitória será campeão brasileiro, não se sabe quando.
Fala-se a altos brados, que a televisão é instrução necessária e que a tecnologia destruirá o planeta com uma explosão em forma de coração apaixonado, com flores em néon... Estão dizendo por aí, que o ex-presidente Fernando Collor de Mello falou “que daqui para frente tudo será diferente”, que os órgãos públicos são de uma eficiência tão fina que passa no orifício do ralo e que os presídios estão superlotados de brancos e abastados.
Nesse disse-que-me-disse, esqueceu-se de falar, de dizer e comentar, que o nosso voto é uma arma, que nossa sabedoria é justiça, que a miséria tem matado mais que a AIDS e que macumba para o mal, olho gordo e inveja existem em todos os lugares, que a violência é uma questão de princípios éticos políticos e não de guerra, que discurso bonito não enche barriga de ninguém e que o remédio está na ação...
Roberto Leal é jornalista e escritor
Crônica do Guerrilheiro Moderno
Na verdade me considero um revolucionário dos tempos modernos, que o diga os já conhecedores da minha poética panfletaria... Detesto as injustiças, combato a corrupção ao meu modo, costumo atacar as maledicências da vida dando pancadas nelas, achando que não devemos vestir a mordaça que o sistema nos impõe, tento defender minhas idéias e palavras com unhas e dentes e não me abato pelas impurezas mesquinhas de terceiros, tenho uma visão de uma guerrilha armada sabiamente, com armas apontadas para a miséria e engatilhada para as mazelas da sociedade, é quando costumo dizer que “quem tem medo de cagar que fique com fome”, e não suplico aqueles covardes para que não abandonem a luta... Não adianta se pronunciar em discursos e citações a Castro Alves, Zumbi dos Palmares, Luís Carlos Prestes, Carlos Marighella ou Vladimir Herzog, sendo que já não nascem mais heróis em nosso solo, lembrando quando se fazia derramar das veias, aquele sangue patriótico verde e amarelo... Carrego no meu DNA a genética efervescente das letras, do jornalismo e do profissionalismo editorial, pretendo deixar essa história para que filhos e netos deem orgulhosa continuidade a esse feito e que não se acovardem diante dos seus maiores inimigos e falsificadores de ideologias... Sei que tem quem não pense assim, mas eu não sou “Quem”, sabe que eles temem a minha caneta e por isso me respeitam, outros acham que sou um tanto ousado, só que ousadia não foi feito para tantos, coragem não nasceu com todos e comprometimento não se compra na esquina... Por isso, quero meus direitos respeitados e o que me é de direito consolidado ou do contrário a morosidade do judiciário vai manchar a sua ficha por longos e duradouros anos...
Roberto
Leal é jornalista
*Fernando Conceição
É perceptível a “orfandade” de quem busca informação isenta, pluralista e de qualidade nos meios de comunicação jornalística na Bahia, Estado com população de 14.175.341 habitantes (IBGE, 2012). Ainda que de tanta gente, mais da metade acima de 15 anos de idade, isto é, 52%, permaneçam analfabeta (18,5%) ou funcionalmente analfabetas (34%). Dado pornográfico por si só, que tornaria condenável qualquer governante menos cínico.
A qualidade da mídia jornalística na Bahia, também o quarto maior colégio eleitoral do Brasil, com quase 10 milhões e 200 mil eleitores, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro (TSE, 2012), tem piorado a olhos vistos e ouvidos escutados. Ano após ano, desde que este escrevinhador se entende como gente (fim da década de 1970 para cá). Na democracia, é impossível escolher bem sem ser bem informado. A má qualidade informativa é péssimo para a democracia. Ruim para toda a sociedade, que se torna refém, desprotegida dos desmandos das elites de poder econômico, político, religioso, militar.
Tem repercutido a publicação sobre a situação da mídia noticiosa 2013, relatório anual do Pew Research Center, do qual aqui tomamos de empréstimo o conceito de “orfandade”. O relatório vem sendo publicado desde 2004 por essa organização não-governamental e não-partidária mantida por The Pew Charitable Trusts. Por sua vez, essa é uma instituição que se declara independente e sem fins lucrativos, fundada em 1948 por herdeiros de Joseph Newton Pew (1848-1912), magnata da indústria de derivados de petróleo, óleos combustíveis e lubrificantes.
Órfão está quem busca informação de qualidade na terceira mais populosa capital do Brasil, Salvador. Aliás onde existe apenas 3 jornais impressos diários: A Tarde, o mais antigo,Correio, o mais suspeitoso, e Tribuna da Bahia, o mais dissimulado.
Jornais? Raquíticos em tiragem (somando, os três não vendem 100 mil exemplares), indigentes em circulação (nenhum cobre sequer metade do território estadual), subnutridos em noticiário. Pegue-se hoje em dia qualquer edição de A Tarde, veículo caro à mentalidade dos habitués na leitura de jornais: é vergonhoso no que seus responsáveis estão transformando sua memória.
Assim é o atual padrão do noticiário da TV e do rádio locais, a maioria com departamentos de jornalismo esquálidos. As redações se transformaram em ambientes anódinos, onde se explora o trabalho de gente semi-analfabeta, considerável parte “estagiária” escravizada como se já profissionais formados.
E as escolas de jornalismo fazem o que?
É aqui que entra a irresponsabilidade da política de formação de jornalistas no país. Na Bahia, por exemplo, que papel têm desempenhado nesse quadro os cursos e as faculdades que ofertam a habilitação em Jornalismo?
Se até 1998 Jornalismo somente era possível cursar na Universidade Federal, em Salvador, em 2012 o Ministério da Educação tinha cadastradas no Estado 13 instituições que ofertavam essa habilitação, 9 outras que ofertavam Comunicação com Jornalismo, e uma última Comunicação e Jornalismo Multi
meios. 29 instituições ofertam hoje algum tipo de habilitação genérica (bacharelado?) em Comunicação Social na Bahia, esmagadora maioria privada e particulares.
Haveria tantos “professores” qualificados, na capital e por todo o interior, para prover esse boom do mercado estudantil em jornalismo? Esses cursos e faculdades possuem as condições necessárias – com laboratórios, equipamentos, produtos experimentais, acompanhamento dos egressos etc – de funcionamento? O mercado formado pelas empresas tradicionais de produção e tratamento noticiosos, teria como absorver a mão-de-obra que sai a cada ano dessas escolas?
A resposta a essas perguntas é um rotundo não!
E curioso é constatar a mudez da mais importante Faculdade de Comunicação da Bahia, a Facom/UFBA. Que bem poderia encetar um debate profundo sobre a crise no jornalismo baiano. Crise que talvez seja conseqüência da crise de identidade (praticar jornalismo ou odiar jornalismo? – eis a questão…) dos próprios cursos de jornalismo, já considerados descartáveis em julgamento histórico do Supremo Tribunal Federal.
Descartáveis seríamos também nós, os professores desses cursos? Assim como os sindicatos de jornalismo e, mais paroquiano ainda, a esclerosada Associação Bahiana (assim mesmo, com “h”) de Imprensa?
Que contribuição a chamada “academia” pode dar a esse debate? Se é que pode dar alguma, além de encantar-se com o próprio umbigo e ficar bajulando donos de rádios, TVs e jornais com projetinhos voluntaristas e submissos.
*Fernando Conceição é jornalista, escritor e professor universitário
*Roberto Leal
Hoje quero escrever sobre a falta de competência dos órgãos público e o que é precisar
desses órgãos, como sofre o povo que necessita de algum serviço prestado por um desses
órgãos, é uma vergonha a forma que somos tratados, quando solicitamos algum serviço,
alguma manifestação de providência. É aquele jogo de empurra-empurra, que acaba cansan-
do, que acaba estressando o contribuinte, é uma falta de respeito que não tem lógica, é
um descaso sem precedentes...
É um serviço público mal prestado, mal educado e massacrador, é um sistema corrompido,
um sistema falido, um sistema politizado... Onde os funcionários vem de concursos com a
mentalidade formada, entrar para não fazer nada, buscar vaga nessa mamata... É preciso
mudar essa mentalidade, mudar essa versão oportunista, mudar para ter respeito, voltar a
ter credibilidade, moralizar para poder fazer, para poder criar, para poder existir, para poder
conseguir, para poder exterminar com essa hipocrisia.
Sem fiscalização nada anda, nada acontece, nada muda, nada enaltece o funcionalismo... É
preciso mudar essa política vagabunda que invadiu nosso país, nossas capitais e virou um
câncer que precisa ser extirpado do corpo comunitário nacional . A nação quer mudar, se
os políticos quiserem mudar eles mudam, é preciso leis de moralização, de organização, de
recuperação e de desenvolvimento...Cada setor, cada órgão, cada Secretaria, cada Superintendência, cada diretoria; todos deveriam ter fiscais, todos deveriam ser policiados, todos deveriam ser vigiados, todos deveriam ser monitorados; seja por cartões de pontos, relógios de ponto, livros de presença, estatísticas de desenvolvimento funcional, rendimento
na função, espírito de cooperação, elaboração de pareceres elogiosos, como também pareceres desclassificatórios, de níveis, de rebaixamento salarial; aquele que não produz não se mantém, aquele que não trabalha não recebe, aquele que muito se ausenta é porque não
quer trabalhar, aquele que muito se licencia é porque não precisa de continuar; aquele
que desrespeita o cidadão, o contribuinte, também deve ser punido...Porque existe lei
para proteger o funcionário no exercício das suas funções, contra a ira comunitária?
Porque a própria máquina pública sabe da deficiência do seu funcionário, o que provoca
revolta na comunidade... Primeiro o povo, primeiro o contribuinte, depois o resto; funcionário público só o é, porque o contribuinte existe, paga os seus impostos, as suas multas, os seus consumos e são motivos da existência desses sanguessugas autorizados...
*Roberto Leal é jornalista, escritor e editor
*Roberto Leal é jornalista, escritor e editor
Manipulação da mídia voraz
Por Hildegard Angel
Venho, como cidadã, como jornalista, que há mais de 40 anos milita na imprensa de meu país, e como vítima direta do Estado Brasileiro em seu último período de exceção, quando me roubou três familiares, manifestar publicamente minha indignação e sobretudo minha decepção, meu constrangimento, meu desconforto, minha tristeza, perante o lamentável espetáculo que nosso Supremo Tribunal Federal ofereceu ao país e ao mundo, durante o julgamento da Ação Penal 470, apelidada de Mensalão, que eu pessoalmente chamo de Mentirão.
Mentirão porque é mentirosa desde sua origem, já que ficou provada ser fantasiosa a acusação do delator Roberto Jefferson de que havia um pagamento mensal de 30 dinheiros, isto é, 30 mil reais, aos parlamentares, para votarem os projetos do governo. Mentira confirmada por cálculos matemáticos, que demonstraram não haver correlação de datas entre os saques do dinheiro no caixa do Banco Rural com as votações em plenário das reformas da Previdência e Tributária, que aliás tiveram votação maciça dos partidos da oposição. Mentirão, sim!
Isso me envergonhou, me entristeceu profundamente, fazendo-me baixar o olhar a cada vez que via, no monitor de minha TV, aquele espetáculo de capas parecendo medievais que se moviam, não com a pretendida altivez, mas gerando, em mim, em vez de segurança, temor, consternação, inspirando poder sem limite e até certa arrogância de alguns. Eu, que já presenciara em tribunais de exceção, meu irmão, mesmo morto, ser julgado como se vivo estivesse, fiquei apavorada e decepcionada com meu país. Com este momento, que sei democrático, mas que esperava fosse mais. Esperava que nossa corte mais alta, composta por esses doutos homens e mulheres de capa, detentores do Supremo poder de julgar, fosse imune à sedução e aos fascínios que a fama midiática inspira.
Que ela fosse à prova de holofotes, aplausos, projeção, mimos e bajulações da super-exposição no noticiário e das capas de revistas de circulação nacional. E que fosse impermeável às pressões externas. Daí que, interpretação minha, vimos aquele show de deduções, de indícios, de ausências de provas, de contorcionismos jurídicos, jurisprudências pós-modernas, criatividades inéditas nunca dantes aplicadas serem retiradas de sob as capas e utilizadas para as condenações. Para isso, bastando mudar a preposição. Se ato DE ofício virasse ato DO ofício é porque havia culpa. E o ônus da prova passou a caber a quem era acusado e não a quem acusava. A ponto de juristas e jornalistas de importância inquestionável classificarem o julgamento como de “exceção”.
Não digo eu, porque sou completamente desimportante, sou apenas uma brasileira cheia de cicatrizes não curadas e permanentemente expostas. Uma brasileira assustada, acuada, mas disposta a vir aqui, não por mim, mas por todos os meus compatriotas, e abrir meu coração. A grande maioria dos que conheço não pensa como eu. Os que leem minhas colunas sociais não pensam como eu. Os que eu frequento as festas também não pensam, assim como os que frequentam as minhas festas. Mas estes estão bem protegidos. Importa-me os que não conheço e não me conhecem, o grande Brasil, o que está completamente fragilizado e exposto à manipulação de uma mídia voraz, impiedosa e que só vê seus próprios interesses. Grandes e poderosos. E que para isso não mede limites. Esta mídia que manipula, oprime, seduz, conduz, coopta, esta não me encanta. E é ela que manda.
Quando assisti ao julgamento da Ação Penal 470, eu, com meu passado de atriz profissional, voltei à dramaturgia e me lembrei de obras-primas, como a peça As feiticeiras de Salém, escrita por Arthur Miller. É uma alegoria ao Macartismo da caça às bruxas, encetada pela direita norte-americana contra o pensamento de esquerda. A peça se passa no século 17, em Massachusets, e o ponto crucial é a cena do julgamento de uma suposta feiticeira, Tituba, vivida em montagem brasileira, no palco do Teatro Copacabana, magistralmente, por Cléa Simões. Da cena participavam Eva Wilma, Rodolpho Mayer, Oswaldo Loureiro, Milton Gonçalves. Era uma grande pantomima, um julgamento fictício, em que tudo que Tituba dizia era interpretado ao contrário, para condená-la, mesmo sem provas. Como me lembro da peça Joana D’Arc, de Paul Claudel, no julgamento farsesco da santa católica, que foi para a fogueira em 1431, sem provas e apesar de todo o tempo negar, no processo conduzido pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon, que saiu do anonimato para o anonimato retornar, deixando na História as digitais do protótipo do homem indigno. E a História costuma se repetir.
No julgamento de meu irmão, Stuart Angel Jones, à revelia, já morto, no Tribunal Militar, houve um momento em que ele foi descrito como de cor parda e medindo um metro e sessenta e poucos. Minha mãe, Zuzu Angel, vestida de luto, com um anjo pendurado no pescoço, aflita, passou um torpedo para o então jovem advogado de defesa, Nilo Batista, assistente do professor Heleno Fragoso, que ali ele representava. O bilhete dizia: “Meu filho era louro, olhos verdes, e tinha mais de um metro e 80 de altura”. Nilo o leu em voz alta, dizendo antes disso: “Vejam, senhores juízes, esta mãe aflita quebra a incomunicabilidade deste júri e me envia estas palavras”.
Eu era muito jovem e mais crédula e romântica do que ainda sou, mas juro que acredito ter visto o juiz militar da Marinha se comover. Não havia provas. Meu irmão foi absolvido. Era uma ditadura sanguinária. Surpreende que, hoje, conquistada a tão ansiada democracia, haja condenações por indícios dos indícios dos indícios ou coisa parecida…
Transporte Corretivo
Buscar os seus direitos, de forma a agir respaldado na razão escrita e que deve ser respeitada, se dirigindo aqueles bancos prioritários, que as vezes estão até ocupados por pessoas como jovens e crianças maiores, e solicitar a desocupação do assento.
O outro vem da questão empresarial, da soma, empresários + lucros + aumentos = nenhuma segurança e conforto... Agora resolveram lacrar mais as janelas, deixando pouco mais de 10 cm, para que possa circular o ar dentro do veículo; a justificativa são os vândalos, que invadem as janelas em certos pontos da cidade, para não pagar a passagem e agem com truculência e intimidação para coibir, qualquer reação de cobradores e motoristas... E isso acontece somente em dias de muita movimentação de jovens...
Nós é que não podemos pagar por isso; nos dias de muito calor, observei muitas pessoas reclamando, da falta de ar para respirar nos ônibus; a pouca ventilação ocasiona um mal para a saúde principalmente no verão... E quando os ônibus estão circulando cheios, quantas pessoas não passam mal? Se desse outro motivo, tivermos vítimas, a quem recorreremos; será que estão esperando que isso aconteça; quem fiscaliza isso; as empresas podem agir dessa forma com o consumidor, com o passageiro; aquele que consome o seu produto e é a receita com a qual o empresariado é sustentado e mantido...? Deve-se investir mais em segurança, as empresas devem mostrar competência na questão da segurança, um projeto para esses fins, em dias específicos de muito movimento, como: grandes festas, shows e jogos de futebol, com grande público... O povo não pode e nem deve ser penalizado por isso. As mudanças climáticas são na verdade armadilhas para a saúde e sem os devidos cuidados sabemos o que pode acontecer. Vamos atentar para melhorar, fazer valer os direitos adquiridos, exigir, contribuir para uma melhor convivência, buscar providências juntos aos órgãos competentes, através de meios legais. Denuncie o desserviço público...
Roberto Leal é Jornalista e escritorMercenarismo Cristão
Às vezes me pego pensando... Jesus pregava a palavra de Deus, andando descalço, vestido de forma humilde, para não dizer maltrapilha; sentava em qualquer lugar, abaixo de qualquer monte e tinha sempre uma platéia fiel para ouvi-lo e meditar os seus ensinamentos e suas sábias palavras; lembro-me de uma passagem bíblica em que o Judas Escariote, dizia “Senhor nós temos que ficar com essas moedas, devemos ficar com esse dinheiro!” E Jesus mandava distribuir o dinheiro entre o povo faminto e ante a insistência de Judas, que as atiravam no riacho, para que as águas as carregassem... Hoje o que vemos são templos luxuosos, com campanhas publicitárias milionárias, contas e mais contas bancárias para arrecadação de doação, são cultos verbalmente orados a mercê das sacoladas e seus fiéis sacoleiros, pastores bem encorpados, bem barbeados e bem vestidos, arrecadando moedas e mais moedas, que depois deixarão o templo no dia seguinte escoltado por vigilantes fortemente armados, com destino aos bancos... São artistas, políticos e ex-presidiários que resolvem contar as suas andanças, as suas diabruras pela vida pregressa, seus crimes e odisséias, fazendo disso referência, experiência de vida, sobrevivência ocular para se credenciar a falar em nome de Jesus, como um possível mensageiro de milhões de fervorosos precisados de compaixão, que querem conversar com o Senhor, criador dos céus e da terra, aquele que habita corações bons e ruins, meigos e rebeldes, doces e amargos, suaves e repugnantes... Não seria cometer injustiça se posso afirmar que estão fazendo dinheiro com o nome do Senhor, que estão fazendo fortuna com a palavra de Deus, estão construindo impérios com a miséria alheia, estão construindo castelos com a desgraça do povo... Na verdade estão vendendo uma fé que nem eles mesmos a têm, estão vendendo uma fé que o povo magoado, sofrido e ferido, não tem forças para captar, para absorver através da meditação... Tudo não passa de puros ensinamentos, é um aprendizado direcionado a essa tarefa, de engabelar, de ludibriar, de iludir e sem ter o que vos dar... Quem tem fé nasce com ela e permanece de pé, quem tem fé tem a cura, quem tem fé não precisa de mensageiro para que suas palavras cheguem ao Senhor... Dobre o joelho no chão irmão, clame, chame, busque que Deus estará com você nas piores horas da sua vida, mas, faça isso de forma alegre, espontânea e verdadeira, você não precisa de ninguém para dizer a Deus tudo que sente e o livro mais vendido do mundo, é seu manual e o seu guia, é o seu destino, entrega nas mãos de Deus e vai... Que na hora do juízo final a prestação de contas será dolorosa!
Roberto Leal jornalista e escritor
Desigualdade
Viva Maria pisa papelão/ amassando lembranças,/ descalça fome caminha/ com seu olhar criança. Sob viadutos eliminados/ a sociedade desova, /cidadãos aniquilados /caixotes feito cova.
Mas o que dizer da Desigualdade na figura de famílias inteiras brasileiras, que se reservam o direito de isolar-se da imposta civilização, da segregação do CPF; do passe limítrofe que e o RG; do beneficio da Bolsa Escola que pode lhe calar a boca; do Vale Gás que dificilmente vai acender a chama; da carteira assinada com direito a FGTS e PIS... Isso reproduz uma certa sensação de liberdade desordenada ou de aparente indigência?
Como n’um poema em que retrata a mãe de família amassando o ganha pão, reduzindo o peso da sua responsabilidade, nas pisadas compassadas no amasso da madeira, que além de papel se transforma em dinheiro, para matar a fome, da fome que massacra a infância e a juventude de milhões de jovens brasileiros, cabisbaixos a margem de uma cidadania duvidosa... Que mesmo com o projeto Minha Casa Minha Vida, não se ergue a autoestima de todos e a casa dificilmente estará regularizada para receber a família desprotegida pela burocracia tupiniquim em tempo hábil, para não escafeder-se em vida...
Os viadutos das grandes capitais, das grandes Metrópoles, são condomínios superfaturados pelo sistema, onde se veem corpos desovados em pontos estratégicos da cidade, mutilados dos seus direitos e da real atenção que não acontece, não restando alternativa senão encarar a guerra, que as ruas nas maiores noites e demoradas horas de horror, proporciona a sobrevivência afiada junto à miséria, a fome e o descaso dos poderes públicos, que consumidos pela corrupção, vê no povo, na massa de manobra, a solução para os seus problemas. Vê nessa mesma miséria uma valorização do investimento publico e de direito...
E com Desigualdade e assim, o povo vivendo enterrado em caixotes de madeira e grandes caixas feitas colchão em papelão, travesseiro de isopor quebradinhos aos pedaços, cozinhando no malabarismo dos tijolinhos e de panela feita lata de tinta, onde em fogo brando a escassez da mistura, boia na abundancia liquida, esfumaçando no carvão de talas de madeira de lixo reciclável; entre cobertores de retalhos e sacos de utensílios, expostos ao edredom do ridículo, da descoberta inconstitucional, da humilhação posicionada nas lentes do universo turístico, que invade e explora essa mesma miséria de ruas, viadutos, marquises e sinaleiras...
Roberto Leal é Jornalista e escritor
Diz – crime – nação
É sempre difícil falar dos crimes que a razão se cala diante deles e das suas reincidências... O considerado cidadão de primeiro escalão da honestidade é o alvo mais forte da discriminação no Brasil, onde miseravelmente ele consegue colocar no bolso, uns minguados reais... Trocado por sangue, suor e uma velhice problemática, que se limita a fisionomia da desigualdade social.
Enquanto que um politico que nem se quer milita em alguma comunidade, às vezes nem partido tem e está constantemente envolvido em escândalos de rotina, maracutaias viciosas e que sempre terminam em pizza, esse cidadão percebe um salário de Marajá, apoiado pela lei que seus antecessores, beneficiários direto aprovaram. Mas a lei, aquela que rege o nosso código penal, aquela que ninguém quer mexer (dizem que merda quanto mais mexe, mais fede!) quando iremos ver mudanças severas contra todo e qualquer tipo de criminalidade intolerante?
A discriminação do sistema frente à distribuição de rendas e igualdade de condições, direitos e justiça, atinge em cheio milhões de cidadãos brasileiros... Aqui está um grande círculo de discriminados: ex-detentos, presidiários, reeducando ou como prefira nominá-los, esses são vítimas ferrenhas da sociedade, em meio a toda essa parafernália de projetos, processos e decretos, a morosidade do judiciário, transforma-se em segmentos prejudiciais ao andamento de recursos impetrados e favorecendo a superlotação dos presídios e cadeias públicas... Os homossexuais, desrespeitados, agredidos e sendo dizimados ao flagrar das câmaras, sem que providências mínimas sejam tomadas... Os negros, de todos os níveis e classes sociais, quase sempre marginalizados, quase sempre muito visados, vigiados, perseguidos e injustiçados, o negro é o suspeito, se é negro ganha menos, o negro intensifica sua luta... As prostitutas, que outrora foi uma ocupação folcloricamente valorizada, levando em consideração, o mercado de prazer que tínhamos nas grandes cidades, muitos até viraram história e muitas, personalidades da sociedade... Os mendigos, resquício da miséria fabricada pelo sistema, pela corrupção, pela falta de politicas públicas e pelo descaso com o ser humano... Isso é só para citar algumas vítimas da nossa constituição predatória!
Em outubro de 1997, exemplo só para lembrar, o Sr deputado Jair Bolsonaro, na época no PPB/RJ, esse mesmo da perseguição (homo fóbica) aos direitos dos homossexuais, afirmava em entrevista a jornalista Ana Cristina Rosa do jornal Estado de São Paulo, com relação ao massacre do Carandiru (crime de grande repercussão), onde morreram 111 presos “que deveriam ter morrido mais 889 naquele momento, aproveitando-se da oportunidade de que a mesma repercussão que deu com a morte de 111, com 889 a mais, também daria e que desconhecia ações das entidades de direitos humanos”... No caso, o mesmo retratava seu apoio à morte e extermínio de seres humanos acuados e indefesos, que se encontravam confinados em depósitos que não rendiam votos.
“Perderam essa oportunidade de fazer uma limpa na vagabundagem deste país, com certeza, muitos iam pensar mais vezes, antes de virar bandidos”, dizia na época... Percebe-se tratar de um politico exterminador de pequenas classes e reincidente em opiniões catastróficas politicamente e atitudes de extrema ignorância... Só que o senhor deputado Jair Bolsonaro, esquece que o povo até apoiaria a sua manifestação infeliz, por um conceito de melhoramento da imagem pública dessa pátria amada, idolatrada, que á salvem, salvem... Se a limpa como disse, começasse por Brasília. Com certeza não precisaria nem matar mil e com isso morreriam o analfabetismo, a criminalidade primária, o desemprego forçado, esse salário mínimo de fome, e a saúde do necessitado cidadão e com isso morreriam também uma porcentagem muito grande da injustiça social, da má distribuição de renda, o que proporcionaria a erradicação da miserabilidade alheia...
Que país é esse que não se conscientiza de que sua gente tem maiores valores, que desampare esse tipo de delito, chamado até de inafiançável; você conhece alguém que se encontre preso no Brasil, por atos de racismo, discriminação racial ou crime de segregação? Então podemos chamar isso de“Impunidade Branca”. Não precisamos de campanhas de conscientização, precisamos é de cumprimento de lei, que se tire essa máscara antes que seja tarde demais...
Roberto Leal é Jornalista e editor
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