quinta-feira, 12 de novembro de 2020

UBESC DIVULGA RESULTADO DO PRÊMIO DE LITERATURA PROF GERMANO MACHADO

Publicado por Roberto Leal As quinta-feira, 12 de novembro de 2020  | Sem Comentarios

2021 terceira edição
Os premiados serão contemplados com a publicação dos trabalhos na revista de Literatura Òmnira, na sua Edição Especial, em homenagem ao líder negro angolano Jonas Savimbi. A edição 2020 do Prêmio Internacional de Literatura Germano Machado não aconteceu, devido a Pandemia/COVID-19, a Edição 2021, terá lugar a crônica. A comissão organizadora e jurados resolve oferecer uma Menção Honrosa, fora do regulamento. O Prêmio tem a realização da UBESC - União Baiana de Escritores e da revista angolana de Literatura Òmnira.


RESULTADO:

1º LUGAR:
Pedro Franco do Rio de Janeiro/RJ-Brasil, com o conto: 

GENTE FINA

Ele usava “pince-nez” e ela “lorgnon”. Ele via as horas em Patek Philippe de bolso, ela as perguntava. Tinham títulos universitários, tirados na Sorbonne, só que nunca trabalharam. Viviam de rendas, deixadas pelas famílias. Eram primos de distante parentesco e tinham muitos sobrenomes e se tratavam na intimidade por diminutivos. Não mais parentes. Eram sociáveis e frequentavam ocasionalmente o Country. Riam dos escândalos no "café-society" e dos que agora ganhavam dinheiro e pagavam para aparecer nas colunas sociais. Detestavam política e não votavam, porque corriam para Paris em épocas de eleição, ainda que julgassem muito interessantes as democracias e os movimentos contra a fome em Bangladesh. Nunca procriaram, embora achassem crianças bonitinhas. Liam os clássicos e citavam Joyce e Proust por qualquer motivo. Foram envelhecendo com a mesma rotina e indo às festas das pessoas bem nascidas. E os convites começaram a rarear. Evitavam enterros e lugares da moda. Por fim morreram envenenados por gás. Suas mortes foram percebidas, quando começavam a feder. O guarda noturno chamou a polícia, ao sentir da rua cheiro de gás. E os empregados não avisaram? Estavam acostumados a chegar pela manhã e encontrar a mansão do Jardim Botânico fechada. Os patrões, bons porque pagavam bem, pouco falavam com eles e iam para a França, sem avisar. Era recorrer a quem os representava e receber ordens. Fifi e Lulu estavam vestidos a rigor, corpos em decomposição, caídos em bergeres, a cerca de três metros uma da outra. Havia dois copos com restos de sonífero no champanhe Cristal, com garrafa aberta. Não havia bilhete de despedida, ou testamento. Também desparecera a fortuna. Naquele mês o saldo no banco era diminuto. Com a venda da mansão se pagou empregados, últimas contas, imposto de renda e a firma, que administrara os bens do casal por sessenta anos. Não deixaram dívidas, nem saudades.



2º LUGAR:
Regina Ruth Rincon Caires de Araçatuba/SP-Brasil, com o conto: 


ETERNO PESAR

No silêncio da madrugada, da outra casa, parede-meia, eu conseguia ouvir desaforos sussurrados, choro abafado, gemidos de dor. E isso acontecia recorrentemente.

No claro do dia, eu via um casal normal, afora o olhar esquivo da mulher. Reticente, evitei a aproximação. Era o comportamento costumeiro, não cabia invasão da privacidade. O relacionamento, unidade blindada, pertencia somente aos envolvidos.

E, da crueldade velada, da violência reiterada, nunca ouvi pedido de socorro. Apenas o estampido.



MENÇÃO HONROSA:
Josafá Paulino de Lima de Campina Grande/PB-Brasil, com o conto: 


AL BEDU 

O corpo deitado. A boca seca costurada num silêncio de pedra. A mão engelhada, tostada pelo sol. As unhas negras ensebadas deslizavam feito lesma procurando luz. As tábuas velhas do barco, incrustadas de piche, era a face podre do mundo. A mão direita exangue tateando fragmentos esbranquiçados de ostras deixava rastro.

Na outra mão, a carta do último beduíno. Aquele sábio que jamais seria visto e nem esquecido, mas que permaneceria nele para sempre. Como pele.

Ainda era madrugada, a água batia gelada respingando sobre a carta e o sol era apenas uma miragem tremulando no horizonte esfumado.



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