Os velejadores brasileiros
acusados de tráfico internacional de drogas, após serem presos com uma tonelada
de cocaína em um barco, em agosto do ano passado, e que foram condenados a
10 anos de prisão pela Justiça de Cabo Verde, continuam presos, aguardando
julgamento de recurso.
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O quarteto de velejadores preso em Cabo Verde |
A sentença foi anunciada em
29 de março (quinta-feira), no tribunal da cidade de Mindelo, na ilha de São
Vicente, Cabo Verde/África. O julgamento que teve início no dia 12 de março (segunda-feira), quando
os velejadores foram ouvidos e foram condenados a 10 anos de prisão em regime
fechado, o baiano Rodrigo Dantas, 25 anos, e outro velejador baiano, Daniel
Dantas, como também o gaúcho Daniel Guerra, 36 anos, e o capitão da embarcação,
de naturalidade francesa, Olivier Thomas.
Segundo Alex Coelho, tio de
um dos velejadores o inquérito elaborado pela Polícia Federal brasileira foi
desconsiderado pela Justiça. Os advogados dos velejadores vão recorrer da
decisão e pedir o cancelamento do julgamento. "O julgamento foi
completamente tendencioso. Não foram aceitas provas, nem as testemunhas, nem a
documentação da Polícia Federal brasileira, não foi levada em conta o conteúdo",
reclamou.
Do Julgamento
Os velejadores e o capitão
são acusados de tráfico internacional de drogas por suspeita de terem
transportado a carga de um pouco mais de uma tonelada de cocaína no veleiro em que
pilotavam com destino à Ilha de Açores, em Portugal. Os familiares dos
velejadores, no entanto, afirmam que eles não tinham conhecimento do
carregamento da droga que estava na embarcação e acreditaram na absolvição dos
réus até o último momento da leitura da sentença. Para eles, os velejadores
foram vítimas de uma armação e a droga pode ter sido colocada no barco sem que eles
soubessem. O Itamarati acompanha o caso.
"A Polícia Federal
comprovou que é impossível que uma ação dessas tenha ocorrido, flutuando em
águas brasileiras na Baía de Todos-os-Santos, na Marina, ou na Marina do Rio
Grande do Norte. Ou seja, impossível ser feito isso com o barco dentro da
água", destacou o tio de Rodrigo, Ubirajara Coelho.
Do Caso
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Sentença em papel timbrado improprio |
Tudo começou por uma chamada
de emprego pela internet. Foi assim que Rodrigo Dantas decidiu encarar o
desafio de atravessar o Oceano Atlântico, para fazer a entrega de um veleiro na
Ilha de Açores, em Portugal. O anúncio procurava velejadores para compor a
tripulação do veleiro que tinha acabado de ser reformado em um estaleiro em
Salvador, na Bahia. Era uma oferta de trabalho de uma empresa internacional de
recrutamento de mão-de-obra. Os velejadores Rodrigo e outro velejador baiano,
Daniel Dantas, foram contratados pela mesma empresa, a Yatch Delivery Company,
com sede na Holanda. Em Natal/RN, o gaúcho Daniel Guerra se juntou à equipe. Mas,
antes de sair do Brasil em agosto de 2017, o veleiro passou por inspeções da
Polícia Federal em Salvador e em Natal.
O barco foi liberado sem que
nenhuma irregularidade fosse encontrada, mas na Ilha de Mindelo, em Cabo Verde,
na África, veio à surpresa, o veleiro foi mais uma vez inspecionado e mais de
uma tonelada de cocaína foi encontrada, escondida em um piso, tipo fundo falso,
de concreto e cimento na embarcação. O barco que pertence a um inglês,
conhecido como George Fox, que só foi apresentado à tripulação na véspera da
viagem. Ele está sendo procurado. Um dos supostos donos da embarcação foi preso
na Espanha, o inglês Robert James Delbos e a Policia
Federal brasileira tem interesse na sua extradição.
Durante todo esse tempo, o
pai de Rodrigo lutou para provar que o filho não tem envolvimento com o crime.
"Impossível fazer uma obra daquele porte para colocar 1.100kg de cocaína
em um barco, depois de Rodrigo fazer o acesso ao barco. Impossível",
completa João Dantas. Ele viajou até Cabo Verde e acompanhou o julgamento gravou
até um vídeo onde se mostrou a todo tempo otimista com a absolvição do filho e
dos outros velejadores.
Da Conclusão
Rodrigo Dantas ficou durante
quatro meses em liberdade condicional em Cabo Verde, até ser preso novamente em
dezembro do ano passado e condenado. Rodrigo já estava a quatro meses em Cabo
Verde, cumprindo todas as determinações da justiça local, se apresentando
regularmente para assinatura na polícia judiciária etc. “A gente se expõe
justamente pela certeza, pela convicção de que eles não têm culpa disso”,
afirmou a tia de Rodrigo, Adélia Araújo.
Imagine que a sentença foi
promulgada em um papel timbrado com a logomarca do personagem do cavalheiro
negro mascarado “Zorro”. Parecendo uma piada, mas foi o que aconteceu! Este é
apenas o menos significativo dos fatos que fizeram a família dos réus recorrer
da sentença. A Ordem dos Advogados de Cabo Verde repudiou o que considerou
um ato "excêntrico" do magistrado. O papel timbrado com a
figura do Zorro refere-se ao nome da investigação feita pela Polícia Judiciária
cabo-verdiana (órgão análogo à Polícia Federal do Brasil), que foi batizada de “Operação
Zorro”. O fato inédito no país causou espanto até de juristas locais e gerou um
comunicado emitido pela Ordem dos Advogados de Cabo Verde (OACV) repudiando o
ato excêntrico do magistrado Dr. Antero Tavares.
Desde que a sentença foi proferida, as famílias dos velejadores não se conformam com a decisão. Segundo eles, o direito de defesa dos réus foi cerceado, já que as testemunhas de defesa não puderam ser ouvidas via videoconferência e foi desconsiderado o inquérito da Polícia Federal que apontava a inocência do quarteto. Enquanto isso a Via Sacra das famílias dos brasileiros segue o seu suposto longo percurso, e o povo brasileiro espera pelo desfecho do caso.
Fotos: Reprodução internet
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