quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

UM LÍDER QUE O POVO REALMENTE NÃO CONHECEU

Publicado por Roberto Leal As quinta-feira, 8 de dezembro de 2016  | 1 Comentario

Amilcar Cabral a maior Liderança do PAIGC
Ele era um poeta, portanto intelectual; político por necessidade, por isso guerrilheiro e agrônomo de formação. Nasceu em 12 de setembro de 1924, em Bafatá, na Guiné-Bissau, filho de Juvenal Lopes Cabral e de Iva Pinhel Évora. Aos 12 anos de idade une-se ao pai, que nessa altura já havia retornado a Cabo Verde, e efetua os seus estudos primários na Rua Serpa Pinto, na Praia. Seguidamente inscreve-se em São Vicente no Liceu Infante D. Henrique onde termina os estudos em 1944, ganhando classificação de melhor aluno. Ainda na sua juventude, Cabral evidenciava já uma especial avidez pela percepção do mundo que o rodeava, fato que se espelhava nos seus dotes de poeta e de escritor, a sua intelectualidade já era percebida por admiradores do trabalho na época. Os seus sentimentos nacionalistas, libertários e revolucionários sempre foram vistos com reprovação pelas autoridades coloniais, esse era Amilcar Lopes Cabral, aquele mesmo que publicou seus poemas muitas vezes pela alcunha de Larbac e poucos sabem disso.

Em 1945. Cabral é um dos primeiros jovens das colônias portuguesas a ser contemplado com uma bolsa para freqüentar os estabelecimentos de ensino superior em Portugal e matricula-se no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa. A vida de estudante constituiu uma oportunidade para aprofundar o seu sentimento progressista anticolonial, participando ativamente nas atividades estudantis clandestinas que se desenvolviam à volta da Casa dos Estudantes do Império e da Casa de África; foi lá que conheceu os futuros companheiros de luta  Marcelino dos Santos, Vasco Cabral, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane e outros estudantes que viriam a ser futuros e grandes líderes dos movimentos de libertação, no continente africano. Todos assistidos de perto por outros lideres engajados na mesma luta, como: Nelson Mandela, Samora Machel e Patrice Lumumba, dentre outros.

Em 1949. Estando de férias em Cabo Verde, Cabral participa na Rádio-Clube elaborando um conjunto de programas de índole cultural que logo são interditados pelas autoridades, devido à sua mensagem nacionalista que era bem acolhida, sobretudo no seio dos jovens... O que era visto como incentivo a juventude contra o regime colonial pelas autoridades.
Regressando a Lisboa para continuar os estudos, Cabral retoma as suas atividades políticas, com os estudantes africanos, não obstante a vigilância cerrada e as ameaças cada vez mais insinuantes da “Polícia Política Portuguesa”, a PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado.

Em 1952. Cabral termina o curso e casa-se com a senhora Maria Helena Atalaide Vilhena Rodrigues. No início de 1953. Cabral é colocado como engenheiro agrônomo na Guiné-Bissau, para trabalhar na estação agrária experimental de Pessubé. Ele aproveita-se então da sua atividade profissional para percorrer a Guiné de ponta a ponta e adquirir um bom conhecimento do terreno bem como da constituição social das suas populações; é Cabral quem realiza o primeiro recenseamento agrícola da colônia portuguesa de: Guiné.
Sékou Touré grande desafeto de Cabral
Em 1956. Dia 19 de setembro, depois de ter militado durante cerca de um ano no MING - Movimento de Libertação Nacional da Guiné, Amílcar Cabral decide fundar o PAIGC - Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde.
Um ano mais tarde, vai Amílcar Cabral trabalhar em Angola e é lá que também participa na criação do MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola, em Luanda, tendo desenvolvido uma intensa atividade na mobilização de jovens angolanos para a luta contra a dominação colonial. E assim vai ganhando notoriedade entre a juventude.

Em 1957, mês de dezembro, Cabral viaja para Paris onde se encontra com Marcelino dos Santos, da FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique, e com Lúcio Lara, Mário de Andrade e Viriato da Cruz, do MPLA. Juntos resolvem então realizar a primeira reunião de concentração entre os movimentos de libertação das colônias portuguesas, na qual decidem cooperar em atividades conjuntas no campo internacional e criar em Lisboa um centro que coordenaria as ações entre esses movimentos. Na seqüência dessa reunião, Cabral ao regressar de Paris passa por Lisboa onde mobiliza os estudantes nacionalistas africanos para criarem o MAC - Movimento Anti Colonialista, primeira organização clandestina formada em Portugal por estudantes oriundos das colônias portuguesas.

Em 1959. Dia 3 de agosto, Cabral regressa de Portugal para desenvolver a essa  altura, uma série de contatos buscando apoio externo para a luta contra a dominação colonial. Depois do massacre de Pidjiguiti realizado pelas forças coloniais, viu que a situação pedia medidas mais enérgicas, então que resolve regressar à Guiné-Bissau, onde reúne a direção do PAIGC para analisar a situação da luta no país. Fica então decidido que o Partido deveria dar atenção prioritária à mobilização das populações rurais, com vista à preparação de condições para a passagem à luta armada, já que a repressão colonial havia demonstrado não admitir nenhuma veleidade de contestação legal ao sistema.

Em 1960. Cabral decide fugir com os seus companheiros para a Guiné-Conakry onde passaria a ficar instalada a sede do PAIGC. A partir desse país eles trabalham ativamente nos preparativos para reforçar a frente de concentração do partido e o arranque da luta armada de libertação nacional. Em abril de 1960, em Casablanca, ele participa na criação da CONCP - Conferência das Organizações Nacionalistas das Colônias Portuguesas. Durante cerca de três anos Amílcar Cabral desenvolve uma intensa atividade de mobilização das populações no interior da Guiné, ao mesmo tempo em que, no campo internacional desenvolve contatos para a obtenção dos apoios indispensáveis para a passagem a uma nova fase de luta.

A Independência por trás das letras
Em 1963. Era 23 de janeiro, inicia-se a luta armada na Guiné-Bissau. Revelando-se um homem de grande capacidade intelectual e dotado de uma firme convicção na luta pela liberdade e a justiça social, Amílcar Cabral dedicou todos os seus esforços em prol da independência dos povos da Guiné e de Cabo Verde. De maneira a se tornar um dos homens mais respeitados do continente, ele conseguiu assimilar o sucesso que se ia sendo alcançado no terreno da luta militar na Guiné e no da luta política clandestina que militava em Cabo Verde, com o desenvolvimento de uma ação diplomática que ele pessoalmente conduziu da forma bem eficaz. O PAIGC - Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde hoje denominado PAICV – Partido Africano da Independência de Cabo Verde e que é presidido pela ex-ministra e hoje deputada Janira Hopffer Almada.

De 1963/74. Durante a luta armada a sede do PAIGC ficou situada na Guiné Conakry, de onde vem a suspeita do possível mandante do assassinato de Amilcar Cabral, a 20 de janeiro de 1973, o acusado é o ex-presidente Sékou Touré, como diz no seu livro “Amilcar Cabral – Um Novo Olhar” o professor cabo-verdiano Daniel Santos. A morte do “pai das independências” da Guiné Bissau e Cabo Verde, nunca ficou totalmente esclarecida, e é uma das queixas de intelectuais, conservadores  e imigrantes pelo esquecimento dado ao caso e a causa. Várias obras literárias já deram pistas sobre a possível emboscada de que foi vítima
Amilcar Cabral, na obra “Cabo Verde Os Bastidores da Independência” de José Vicente Lopes; no livro “De Conakry ao MDLP” do escritor Alpoim Calvão e o historiador guineense Julião Soares Sousa com o seu livro “Vida e Morte de um Revolucionário Africano”, dão ênfase a acusação. Os escritores são tomense Tomás Medeiros com o livro “A Verdadeira Morte de Amilcar Cabral” e o angolano António Tomás com sua publicação “O Fazedor de Utopias – Uma Biografia de Amilcar Cabral”, citam, mas, não acusam ninguém, todos são inconclusivos sobre o possível envolvimento de Portugal e do próprio PAIGC nessa manobra.

Ficam aqui algumas perguntas que não querem se calar, principalmente nesse momento atual. Será que essa política Educativa Cultural que sonhava o grande líder, está sendo praticada na República Democrática de Cabo Verde e na Guiné Bissau? Onde poderíamos encontrar um acervo sobre a vida literária e cultural desse “pai” das Independências, qual das nações hoje deveria assumir esse compromisso cívico, com o seu povo e sua história? Encerro parafraseando esse grande poeta e guerrilheiro que dizia “Aquele que sabe, ensina àquele que não sabe”. É tão simples assim... basta querer!

POEMA

Quem é que não se lembra
Daquele grito que parecia trovão?!
– É que ontem
soltei meu frito de revolta.
Meu grito de revolta ecoou pelos vales mais longínquos da Terra,
atravessou os mares e os oceanos,
transpôs os Himalaias de todo o mundo,
não respeitou fronteiras
e fez vibrar meu peito...

Meu grito de revolta fez vibrar os peitos de todos os homens,
confraternizou todos os Homens
e transformou a Vida...

... Ah! O meu grito de revolta que percorreu o mundo,
que não transpôs o mundo,
o Mundo que sou eu!

Ah! O meu grito de revolta que feneceu lá longe,
muito longe,
na minha garganta!

Na garganta de todos os homens.



ROSA NEGRA

Rosa,
chamam-te Rosa, minha preta formosa
e na tua negrura
teus dentes se mostram sorrindo.

Teu corpo baloiça, caminhas dançando,
minha preta formosa, lasciva e ridente
vais cheia de vida, vais cheia de esperanças
em teu corpo correndo a seiva da vida
tuas carnes gritando
e teus lábios sorrindo...

Mas temo tua sorte na vida que vives,
na vida que temos...
Amanhã terás filhos, minha preta formosa
e varizes nas pernas e dores no corpo;
minha preta formosa já não serás Rosa,
serás uma negra sem vida e sofrente
ser’as uma negra
e eu temo a tua sorte!

Minha preta formosa não temo a tua sorte,
que a vida que vives não tarda findar...
Minha preta formosa, amanhã terás filhos
mas também amanhã...
... Amanhã terás vida!


 ILHA

Tu vives - mãe adormecida-
nua e esquecida,
seca,
fustigada pelos ventos,
ao som das músicas sem música
das águas que nos prendem...

Ilha:
teus montes e teus vales
não sentiram passar os tempos
e ficaram no mundo dos teus sonhos
- os sonhos dos teus filhos -
a clamar aos ventos que passam,
e às aves que voam, livres,
as tuas ânsias!

Ilha:
colina sem fim de terra vermelha
- terra dura -
rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!


...NÃO, POESIA

... Não, poesia:
não te escondas nas grutas de meu ser,
não fujas à vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
abre de par em par as portas do meu ser
— sai...
Sai para a luta (a vida é luta)
os homens lá fora chamam por ti,
e tu, poesia és também um homem.
Ama as poesias de todo o mundo,
— ama os homens
solta teus poemas para todas as raças,
para todas as coisas.
Confunde-te comigo...
Vai, poesia:
toma os meus braços para abraçares o mundo,
dá-me os teus braços para que abrace a vida.
A minha poesia sou eu.

                            
EVOLUÇÃO CONCEPTUAL E REAL

Um conceito anterior: um caracol
nos mistérios de um invólucro de egoísmo.
A vida só valia à luz do sol,
de um sol falho de Amor – do comodismo.
Conceito mais actual: uma alma aberta à vida,
na conquista da vida, rasando o seu destino.
Na estrada a percorrer, na estrada percorrida.
o amor é o justo guia, o amor é um constante hino.

Fonte: ASCOM/Fundação Òmnira
Texto: Roberto Leal
Fotos: Internet
Livro: Reprodução Roberto Leal



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