O maior alvo foram ex-funcionários
de jornal encampado pelo governo e que, até então, era associado ao clérigo
Fethullah Gülen, que Ancara aponta como mentor da recente tentativa de golpe de
Estado. Autoridades turcas emitiram nesta quarta-feira (27/07) mandados de
prisão para 47 antigos executivos e jornalistas do jornal Zaman, como parte da
investida contra suspeitos de apoiar o clérigo islâmico Fethullah Gülen. O
religioso que vive nos Estados Unidos é acusado por Ancara de estar por trás da
tentativa de golpe militar de 15 de julho na Turquia.
Tayyip Erdogan, presidente da Turquia |
Ao menos um jornalista, o ex-colunista Sahin
Alpay, foi detido em sua casa na manhã desta quarta-feira, segundo a agência de
notícias estatal Anadolu. O jornal, que já foi ligado ao movimento religioso de
Gülen, está sob tutela estatal desde março, quando adotou uma linha
pró-governo. Alpay e outros jornalistas na lista
de alvos do governo são conhecidos por seu ativismo de esquerda e não
compartilham da visão religiosa de mundo do movimento gulenista, o que aumenta
as preocupações de que a investigação pós-golpe esteja se transformando n’uma
caça aos oponentes políticos do presidente Recep Tayyip Erdogan. Alpay,
assim como outros colunistas e jornalistas do Zaman, não pertencem ao
movimento, mas escrevia no jornal porque era o único grande espaço de crítica
ao governo que havia restado, assim como o canal de TV do Hizmet, também
fechado. O Zaman declarava ter uma circulação de 1 milhão de exemplares.
No total, segundo o Hizmet, foram emitidos até agora mandados de prisão contra
187 jornalistas.“Não cometi crime nenhum, não sei por que estou sendo detido”,
disse Alpay, de 71 anos, ao ser levado pelos policiais de sua casa.
Entre as pessoas
procuradas pela justiça estão antigos chefes de redação do Jornal Zaman, são
eles: Abdulhamit Bilici, Sevgi Akarcesme
e Bulent Kenes, segundo o jornal Hürriyet. A agência estatal de notícias Anadolu afirmou que a lista de
jornalistas inclui o proeminente escritor Nazli Ilicak, um dos críticos do
governo do presidente Recep Tayyip Erdogan.
No início de ano, o
poder turco colocou sob sua tutela o então oposicionista Zaman, que tinha uma
tiragem de mais de 650 mil exemplares e era considerado pelo governo o
"porta-estandarte da imprensa favorável" a Gülen. No início desta
semana, a Turquia emitiu mandados de prisão contra outros 42 jornalistas, dos
quais 16 já foram detidos para serem interrogados. No total, Ancara já prendeu
mais de 13 mil pessoas depois da tentativa de golpe, incluindo militares e
juízes. Dezenas de milhares de funcionários públicos suspeitos de ligação com
Gülen foram suspensos, de setores como a Educação e Saúde. Gülen, que coordena
uma rede global de escolas e fundações, negou repetidamente que tenha qualquer
envolvimento na tentativa de golpe militar, que deixou 290 mortos.
Em comunicado
divulgado nesta quarta-feira, os militares turcos afirmaram que até 35
aeronaves de guerra, 37 helicópteros, 74 tanques e três embarcações da Marinha
foram utilizados pelos golpistas. Ao menos 8.651 militares teriam participado
da tentativa de derrubada do governo, o que representa 1,5% das Forças Armadas.
O presidente da Comissão Européia, Jean Claude
Juncker, lembrou que as negociações do bloco com a Turquia envolvem justiça e
liberdade de expressão e que, do jeito que está o país não vai entrar tão cedo
na União Européia. O ministro das Relações Exteriores da Turquia Mevlut Cavusoglu rebateu, dizendo que: “Juncker
não manda na Turquia”.
A Anistia Internacional afirma já ter recebido relatos de presos sem direito a água e comida, que estão sendo vítimas de tortura e até de estupro na cadeia. A organização pede mais acesso de médicos, advogados e parentes aos presos.
A Anistia Internacional afirma já ter recebido relatos de presos sem direito a água e comida, que estão sendo vítimas de tortura e até de estupro na cadeia. A organização pede mais acesso de médicos, advogados e parentes aos presos.
Foto: REUTERS/Umit Bektas
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