![]() |
O "Pai Grande" de Guiné a Cabo Verde |
Amílcar
Cabral nasceu em Bafatá, na Guiné-Bissau, em 12 de Setembro de 1924 e faleceu
em Guiné/Conacri, no dia 20 de janeiro de 1973. Foi um político da Guiné-Bissau
e de Cabo Verde, Filho de Juvenal Lopes Cabral e de Dona Iva Pinhel Évora,
quando contava com oito anos de idade, sua família mudou-se para Cabo Verde,
instalando-se em Santa Catarina, Ilha de Santiago, depois em Mindelo, na Ilha
de São Vicente, cidade em que adotou desde a infância, onde completou os
estudos em 1943. Á época ainda
não se sentia com capacidade para auxiliar o pai na cruzada em favor de Cabo
Verde, mas, já tinha plenos conhecimentos dos problemas que enfrentava o seu
país; porque o pai, desde cedo, o conscientizava. É quando se descobre também
um poeta romântico, porém revolucionário, seguindo passos de outro líder negro
africano da época Agostinho Neto, de Angola. “Larbac” era assim que assinava os seus poemas
de amor que escrevia: Devaneios, Quando Cupido Acerta no Alvo e Arte de
Minerva, dentre muitos. Escritos denunciaram influências clássicas
de poetas como: Casimiro de Abreu e Gonçalves Crespo, autores que conheceu no
Liceu em Mindelo. O lirismo de Larbac (anagrama de Cabral) não se evidencia
pela sua originalidade, e sim pela pura sutileza que revelava a sua
sensibilidade amorosa. E é esse romantismo que passa para a sua prosa de adolescente
e até seus contos ganhando características. Todavia, na sua produção literária, destacavam-se
textos políticos, culturais e poesias.
Aos 18 anos, atuou na imprensa, antes
de seguir para Portugal para estudar agronomia. Longe de casa, escrever poemas é a melhor maneira do
desterrado se sentir deitado ao colo da mãe África, como escreveu no belíssimo
poema Regresso, uma indescritível
declaração de amor a África. Ao
retornar, em 1952, traz no peito não só os versos, mas o anseio de libertação
que o tornara “O pai grande” da
nacionalidade de sua pátria e foi assim que liderou, quatro anos depois, a
criação do Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde
(PAIGC). Seus versos que atravessaram o Atlântico e inspiraram do lado de cá
alguns dos grandes poetas negros brasileiros, dentre eles, os poetas Paulo
Colina o Luís Silva (o Cuti – membro do Movimento Quilombhoje Literatura, de
São Paulo) e o Hamilton Cardoso, que batizou seu filho com o nome de Amilcar,
em homenagem ao herói nacional “guinécaboverdeense”.
![]() |
Amilcar Cabral em missivas |
Nos saraus que os militantes do Movimento Negro realizavam nas
décadas de 70/80, aqui no Brasil era impossível não ver e ouvir poetas
declamando seus versos: “Quem é que não se lembra / Daquele grito que parecia
trovão?! / – É que ontem / Soltei meu grito de revolta. /Meu grito de revolta
ecoou pelos vales mais longínquos da Terra, / Atravessou os mares e os oceanos,
/ Transpôs os Himalaias de todo o Mundo,/ Não respeitou fronteiras / E fez
vibrar meu peito…” Em seu peito guerrilheiro, batia forte um coração
revolucionário e patrioticamente apaixonado, batia também sem se furtar a
homenagear as mulheres negras, como no poema Rosa, “Chamam-te Rosa, minha preta formosa / E na tua negrura /
Teus dentes se mostram sorrindo. / Teu corpo baloiça, caminhas dançando, /
Minha preta formosa, lasciva e ridente / Vais cheia de vida, vais cheia de
esperanças / Em teu corpo correndo a seiva da vida…
Em 2001, Amilcar Cabral virou
documentário nas lentes da cineasta Ana Ramos Lisboa, com depoimentos de
pessoas que conviveram com ele, dentre elas, a sua esposa Ana Maria, a única
testemunha do crime de execução em que foi vítima, em 1973 e que o apresentou
não só como político, mas, como
poeta também e como um humanista, que
desempenhou um papel fundamental para o crescimento cultural, tanto de Cabo
Verde quanto da Guiné-Bissau. O
livro Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do homem, Ed. Rosa de Porcelana/Praia-Cabo Verde, reúne 53 cartas escritas por
Amílcar Cabral a sua esposa Maria Helena Vilhena Rodrigues, entre 1946 a 1960,
obra organizada pela sua filha Iva Cabral mostra um pouco de tudo isso. Um pensamento de Larbac é uma ferramenta sempre atual
para que se trabalhe a falta de lembranças "O nosso povo africano sabe
muito bem que a serpente pode mudar de pele, mas é sempre uma serpente",
dizia Amílcar Cabral.
Regresso
Mamãe
Velha venha ouvir comigo
O
bater da chuva lá no seu portão.
É
um bater de amigo
Que
vibra dentro do meu coração
A
chuva amiga, Mamãe Velha, a chuva,
Que
há tanto tempo não batia assim...
Ouvi
dizer que a Cidade-Velha
–
a ilha toda –
Em
poucos dias já virou jardim...
Dizem
que o campo se cobriu de verde
Da
cor mais bela porque é a cor da esp’rança
Que
a terra, agora, é mesmo Cabo Verde.
–
É a tempestade que virou bonança...
Venha
comigo, Mamãe Velha, venha
Recobre
a força e chegue-se ao portão
A
chuva amiga já falou mantenha
E
bate dentro do meu coração!
Fonte: ASCOM/Revista Òmnira
Fotos: Divulgação
0 comentários: