Roberto Leal e sua revista Òmnira. |
Falar do novo momento da Literatura
como um todo, não é tão difícil, mas será mesmo que fazer um balanço daquilo
que avançou em todos os aspectos de uma Literatura que sempre foi massacrada
pelo sistema, que não vê com bons olhos a proliferação do saber escrever, do
saber falar, do saber dizer, do saber fazer e do saber reivindicar, além de
acontecer. Até mesmo do saber protestar... As ondas de protestos que invadiram
e sacudiram o nosso país, faz parte do que aponto e para onde aponto essa minha
caneta. Aponto para a Literatura em forma de cultura popular, através do uso da
palavra, como nas manifestações do ano passado. “Queremos Educação e Saúde,
Copa não”, “Transporte de Qualidade para Todos” ou “ Violência não!”... O que vem
mostrar que a palavra tem força... Lembram-se
dos caras pintadas?
O escritor mexicano
recentemente falecido a 17 de abril de 2014, Gabriel Garcia Marques, escreveu:
“podes
pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar”. A professora de
português, Andrea De Laurentiis Ricci
Peres, de São Paulo, afirma: “As
palavras que são apenas faladas perdem sua “vida” no momento que as proferimos,
porém quando as transportamos para o papel, elas se consolidam, assim, a
escrita faz da palavra uma nova autoridade, trazendo consigo um poder intenso,
que poucos têm consciência. Mesmo que as usemos a todo momento, raramente
pensamos mais profundamente no que dizemos e como falamos, é preciso escrever
para meditar sobre o potencial que cada palavra carrega”.
PUBLICAÇÕES
-
A Literatura dissemina um novo momento, diante do grande número de novas
publicações, levando em consideração o comércio promissor que se tornou hoje as
pequenas tiragens de obras desconhecidas, de autores contemporâneos, que se
arriscam cada vez mais na trilha de uma carreira de escritor... Atirando-se na jaula com as ditas feras e se
expondo a duras críticas, mesmo que sem um público formado, um leitor
familiarizado, mas querendo ficar, querendo mostrar seus labirintos poéticos,
seus mágicos momentos fictícios e suas grandes lições, da fertilização das
palavras, na formação de conjuntos em formas de comunicação e razão para se
construir até mesmo uma democratização com os aero grifos do futuro e das próximas civilizações.
MOVIMENTOS - Podemos
citar também o grande número de movimentos e grupos literários que a cada dia
invadem os espaços culturais das pequenas e grandes cidades, para que sejam
lembrados pelo trabalho que exercem e não esquecidos pelo que representam para
a sociedade. Não podemos esquecer nesse momento do CEPA - Círculo de Estudo
Pensamento e Ação, de Salvador; do Movimento Quilombhoje de Literatura, de São Paulo; do Brasil Sem
Fronteiras, de Santa Catarina; do Belô Poético de Montes Claros, em Minas
Gerais; da Mochila Literária, no Rio
Grande do Sul; como também da Revista Brasília de Reis e Souza, na Capital
Federal e a Casa do Poeta Brasileiro , como tantos outros que se destacam pela
sua trajetória, pela persistência e resistência
para com a existência da poesia, da prosa e da Literatura basicamente
produzida, mesmo que artesanalmente as vezes, mas de qualidade reconhecida pela
história de que o impresso permanecerá, enquanto que nós morreremos.
SARAUS - Os
Saraus se espalham como ervas daninhas pelos bares, pelos restaurantes, salas
de espetáculos e teatros, praças e ruas das maiores capitais, levando a passos
lentos uma cultura acanhada mediante repressão, mediante excassez de apoio,
mediante o teor da palavra censurada que ainda incomoda algozes malfeitores...
Para quem não sabe “a palavra tem força, tem poder!” E essa é uma das razões
pela qual somos preteridos pelo sistema, que preferem e nos quer distante dos
editais, distante das portas abertas e bem distante do conhecimento... Em
Salvador, a minha capital, de onde venho, não é diferente de uma reclamação unânime
e nacional, mas “O Sarau da Onça” da Sussuarana bota a poesia para correr nas
veias; O “Caruru dos Sete Poetas” uma tradição na cidade de Cachoeira no Recôncavo
Baiano, onde se mistura a culinária do dendê e a poesia; o Sarau Bem Black, no
Pelourinho-Centro Histórico, onde a musica também ecoa a cada cena poética apresentada.
E como Salvador, todo o país vive hoje a febre dos Saraus... O Sarau está na Moda ganhando a simpatia de
muitos e novos adeptos. Uma inovação para acrescentar mais cultura a nossa
luta, a trajetória poética contemporânea. E os Saraus pipocam por todas as
partes literárias que lhes pertence às cidades, os Estados e o país, na poesia de
Castro Alves a Mario Quintana, nos romances de Jorge Amado a Érico Veríssimo e
na contemporaneidade de Aleilton Fonseca a Carlos Nejar...
É esse momento que eu quero
retratar da nossa Literatura, um grandioso momento, quando a conscientização
faz com que o escritor começe a investir em você, na proliferação da sua mensagem,
na peregrinação dos seus recados, da satisfação de ter a sua ideia massificada
em páginas impressas de livros, antologias, coletâneas, revistas e publicações
panfletárias, com as mais diversas vertentes que surgem como portas abertas
para a oportunidade de ser publicado... Falar do sistema é apelar para que o interesse
faça parte das suas pastas de incentivo, que a burocratização dos editais seja vencida
por verdadeiras obras, fora das panelinhas corporativas e pareceres vendidos a estilos
literários conhecidos dos jurados aproximados...
BIBLIOTECAS
COMUNITÁRIAS - Não podemos esquecer de somar ai a
contribuição das Bibliotecas Comunitárias, que cresce a cada dia o número delas
pelo país afora, na nossa Capital Salvador, as bibliotecas comunitárias estão
priorizando a aquisição da produção de obras de autores baianos para compor o
seu acervo de consulta e de pesquisa. As
bibliotecas comunitárias se proliferam de forma acelerada e positiva, não que o
sistema tenha ou esteja promovendo isso... Não é verdade! São as manifestações
culturais, é na verdade essa produção independente que cresce a cada momento,
em que um espetáculo literário encerra a sua jornada, um novo está surgindo e
ocupando o espaço deixado e sempre algo novo está acontecendo!
As modalidades de abordagem do público,
apresenta-se como inovação, recitais performáticos, bate-papos com escritores,
a mistura de poesia & música ao vivo, saraus, tarde de autógrafos e leituras
públicas... Várias dessas ações são alternativas independentes que foram
criadas para desburocratizar a escravidão cultural promovida pelo sistema,
digo, driblar a burocratização da verba pública para a cultura, dos projetos de
leis de incentivo, opções que não garante acesso aos contemporâneos! É preciso remediar
batendo forte na dificuldade que é vencer um edital, quem escreve sabe o que é
isso e sabe do que eu estou falando, dessa trajetória negativa para com a
produção da palavra...
CONCLUSÃO - Conscientização
é preciso, reconhecimento também, incentivar a produção, a criação de espaços,
o apoio a entidades e bibliotecas, são esses polos que transmitirão e
abrangentemente desfilará a cultura fortalecendo a educação, o conhecimento e a
preservação da história do povo, dos seus costumes, folclore e lendas. Comemoro
esse grande momento da Literatura apresentando para vocês a mais nova
baiana/brasileira e internacional Revista
Òmnira, que faço com dinheiro do meu bolso, as minhas obras literárias que
edito com dinheiro do meu bolso e o meu trabalho que desenvolvo ajudando a
outros companheiros onde abro as portas das minhas publicações e que as
mantenho com dinheiro do meu bolso... Essa é a resposta que tenho para dar ao
sistema... “As mudanças só acontecem se forem proporcionadas de verdade!”.
Escritora Zenir Izaguirre recebe título e homenagem. |
Louvável esse apoio da Câmara Municipal
de São Jerônimo que abriu as suas portas para que pudéssemos estar aqui,
vivendo esse “nosso” momento literário, espero que outros segmentos na cidade,
comecem a pensar em alimentar a força dessa palavra... Para um bom começo seria
a criação de um Prêmio Literário Regional, revelando seus talentos, descobrindo
novos valores, refazendo a história da cidade através das letras da terra... A
cultura promissora desse pedaço Rio-Grandense nos apresenta hoje aqui a
escritora Zenir Izaguirre de Carvalho, um talento descoberto por força da sua
própria palavra, que transmite mensagens que somente compartilhadas mostrará a
sua força, independente das suas dificuldades, em promover essas palavras e
compartilhar essas mesmas idéias e poder fazer dessas mensagens uma potência em
favor de mudanças... Cito alguns poetas e escritores gaúchos que são
contribuição permanente a essa luta: Egiselda Charão, Joaquim Moncks, Leda
Figueiró, Marilene Gil, Suely Eva dos Navegantes, Zélia Helena Dendena dentre
tantos outros com quem já tive o prazer de compartilhar tantas outras ações. Deixo
aqui o meu registro simbólico ao trabalho, dos escritores e professores Luiz
Antonio Assis Brasil que á 30 anos dedica grande parte do seu
tempo a ensinar a autores iniciantes as técnicas do ofício da escrita e do
saudoso Nelson Fachinelli (falecido a 26/04/2006 – portanto fazendo 8 anos) e
que muito deixou de contribuição a esse legado literário que ao povo brasileiro
pertence. Esses dois têm o meu respeito e para quem “Tiro o chapéu” pelo
trabalho e notória semelhança. Na verdade o que quero dizer com essa fala é
que, o escritor já não depende tanto assim da mordaça que lhes impõe o sistema anti-cultural,
ele agora produz esse novo momento que já não é mais nem um desafio e faz ecoar
a sua força: A Palavra... E essa é a minha “Falavra”!
*Palestra ministrada na Câmara
Municipal de São Jerônimo/RS, no dia 9/5/2014, às 19 horas, pelo jornalista e
editor soteropolitano Roberto Leal.
Fotos: Patricia Souza (São Jerônimo/RS)
Excelente artigo, Roberto Leal e também excelente é a Revista Òmnira. Sucesso em sua jornada.
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