O ENEBI é muito mais que um encontro. |
Nem mesmo a tempestade torrencial surpresa que se abateu
sobre Salvador na última quinta-feira por todo o dia, foi suficiente para
afastar o público amante da boa literatura que marcou presença, batendo cartão
no III ENEBI – Encontro de Escritores Baianos independentes, realizado pela
UBESC - União Baiana de Escritores., nos dias 10 e 11 de outubro (quinta e
sexta-feira), na Biblioteca Pública Thales de Azevedo, no Costa Azul, em
Salvador. É verdade que o encontro perdeu um pouco da sua programação diante da
ausência, desfalque providencial de alguns participantes e ganhou muito na
continuidade aguerrida da coordenação do evento que soube remediavelmente o que
haveria de apresentar naquele momento de grande expectativa, daquele que é o
único encontro de escritores de que se tem conhecimento na Bahia. Para
justificar esse acontecimento as presenças marcantes da professora da UESB, a
angolana Zilda Freitas, da desembargadora Luislinda Valois (a primeira juíza
negra do país), da Vice- prefeita Célia Sacramento, do jornalista César Rasec
(ex-A Tarde), do cordelista Zéwalter e do escritor Tom Lira (Brumado/BA), do
Presidente da Academia de Artes e Educação de Valença Araken Vaz Galvão
(Valença/BA), da escritora Lene Muniz (Pres. Tancredo Neves/BA), do escritor e
historiador João Rocha Sobrinho (Feira de Santana/BA) e da bibliotecária
Teresinha Santos (Boquira/BA), como também tantas outras atrações que fizeram
desse espaço democrático e independente, uma mola propulsora de fortes energias
literárias, em um dia como aquele, em que “literalmente” choveu letras em
Salvador.
Tudo começou com a Concrecoisa do jornalista César Rasec, que
deu as boas vindas a um auditório seleto e atencioso, nas imagens e sons que
vem de uma poesia concreta, trabalhada com o objetivo de ser igual a todas as
outras, mas diferente a cada imagem, e para aqueles que não assistiram, veja mais
em www.concrecoisa.blogspot.com.
Profª Zilda Freitas e o mito. |
A professora Zilda Freitas deu uma palestra show, onde
interpretando o poema “Ulisses” de Fernando Pessoa, fez por vezes diagnósticos
precisos, buscando um dialogo com o telespectador que preso diretamente àquelas
palavras colocadas, explicitadas de forma cadenciada e melódica, não que isso
tenha algo a ver com sua nacionalidade africana portuguesa, o que pode e deve
explicar sua forma mais criativa de se manifestar através da poética
portuguesa, que ora foi escolhida diante do universo maravilhoso que Fernando
Pessoa representa para a literatura mundial. Citando com capacidade técnica os heterônimos,
o que deixou o público aguçado com a idéia de provocá-la, buscando assiduamente
interromper a sua fala de maneira a beber nessa nova fonte, beber desse nectar
provocativo e revelador. Os exemplos foram sempre presentes a bordo da fala e da
gesticulação que era muito forte, como se desse vida as palavras, explicitamente
agradando aos presentes... Onde mostrou que a trajetória literária de Fernando
Pessoa foi revisitada, repaginada e exposta com muita precisão e maestria. O
que pode ser também presenciado no seu livro “Mito e Identidade Nacional na Poética
de Fernando Pessoa”Ed. Independente/2013.
A madrinha Drª Luislinda Valois |
Muito esperada, a desembargadora Luislinda Valois, a primeira
juíza negra do país, apresentou-se a bordo da sua luta constante pela
valorização do povo negro, pelo reconhecimento e pelo direito de igualdade,
como sempre levantando a bandeira da Reparação já! Ali revelou segredos da sua
trajetória jurídica, enumerou abusos do sistema, se emocionou, falou do circulo
vicioso do judiciário que ocasiona na morosidade e sinalizou com uma nova obra
literária em fase de conclusão “Negros do Brasil”; como também confidenciou que
a pedido do povo, pensava com seriedade na intenção de concorrer a uma vaga na Câmara
Federal, havia acabado de chegar de Brasília, quando ao fechar das portas e
prazos, filiou-se ao PSDB. E foi durante a realização do quadro “Ponto de Vista”
que a desembargadora recebeu a visita da Vice-prefeita Célia Sacramento que se
limitou a debater com o público presente as políticas públicas direcionadas ao
livro e a leitura nas escolas públicas municipais, com a inclusão do escritor
nesses espaços educacionais, o que traz muita expectativa para os autores
baianos.
Pela “Passarela das Letras” desfilaram nos dois dias de muita
literatura, a escritora infanto-juvenil Sandra Popoff, as poetisas Ametista
Nunes, Estrela, Malu Ferreira e Varenka de Fátima, as escritoras Emérita
Andrade Ramos, Sandra Stabile, Sarah Micucci e Thaiz Smile, os poetas Carlos Alberto
Barreto, Douglas de Almeida, José da Boa Morte e Luiz Menezes; os escritores Antonio Milton
Almeida, Carlos de Sena e Everaldo Oliveira. No Momento da Literatura Infantil,
no Tabuleiro das Letrinhas Baianas, dois escritores chamaram atenção, o
escritor mirim Lucas Yuri que teve sua obra consumida pelo público e o poeta
recitador Tiago Oliveira, com “Zé o Gato Preto da Sorte”, que em breve ganhará
as telas dos cinemas e tantos outros. Os Lançamentos aconteceram simultaneamente: “Zé da Binha:
O Dom Quixote do Sertão’ Ed. Òmnira/BA-2013, de João Camilo Hernandes; “Coração
Amargo em Flor” Ed. Òmnira/BA-2013 de Audelina Macieira, “As Noventa e Nove
Moedas de Ouro” Ed. Armazém da Cultura/CE-2012 de José Walter Pires; “Cromoterapia” de Maria da Conceição; “Educação:
O Grande Segredo” Ed. Independente/BA-2013 DE Jucilene Correia Muniz e a
REVISTA ÓMNIRA N º5, com autores de Angola, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor
Leste, USA. Para fechar a celebração desse III ENEBI – Encontro de Escritores
Baianos Independentes, o escritor Carlos Souza, foi convidado a empossar a “Primeira Diretoria” na história
da União Baiana de Escritores: Presidente: Roberto Leal; Vice-presidente:
Rudival De Amparo; Secretária: Cymar Gaivota; Diretor Geral: Valdeck Almeida de
Jesus; Diretora Adm. Financeira: Delci Silva Leal; Diretor de Marketing e Propaganda:
Jorge Baptista Carrano e Diretor de Projetos: Marcelo de Oliveira Souza. De
maneira, que foi letras a dar com pau, literatura para bater de cacete e
tempestade de poesia, de cordel e de palavras para fortalecer a nossa
cultura... Ano que vem tem mais, quando nos passarão a chamar ENEB - Encontro de Escritores Baianos, pois
a nossa independência já foi conquistada e vamos deixar chover, vamos deixar
molhar, que no molhado é melhor de se brindar!
Texto e fotos: Roberto Leal
Fonte: ASCOM/UBESC
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