Fred Souza Castro de volta ao Colegio Central da Bahia em 2008 |
A Bahia perdeu um dos seus
maiores poetas contemporâneos, faleceu depois de sofrer um ataque cardíaco
fulminante, o cineasta e também jornalista Frederico José de Souza Castro, aos
81 anos, na segunda-feira (8/10). O corpo de Fred foi sepultado no Cemitério
Jardim da Saudade e contou com a presença de amigos, escritores e poetas, ele que
pertencera a Geração Mapa, de onde também fizeram parte o jornalista Florisvaldo
Matos, o escritor Fernando da Rocha Peres, o cineasta Glauber Rocha, e os
artistas plásticos Sante Scaldaferri e Calazans
Neto; nos anos 80, Fred pilotou a coluna
“Livros” do jornal A Tarde, por onde divulgou e trabalhou a literatura de
maneira a fortalecer os movimentos existentes ativamente em Salvador e na Bahia
daquela época. Fred o poeta começou a disseminar sua literatura nas atividades
desenvolvidas por estudantes no Colégio da Bahia, em 1956, projeto conhecido
como Jogralescas, era um recital de poemas dramatizados e que empolgou também nos anos 60 e se expandiu revelando nomes da literatura baiana.
Fred nasceu em São Gonçalo dos
Campos, no dia 1 de abril de 1931, mas foi criado em Santo Amaro da
Purificação. Em 1957, lança seu primeiro livro de poemas “Samba de Roda”, tendo
a cultura da região canavieira uma influência muito grande no seu trabalho, se
tornando um grande poeta regional. Em 2008, em uma das suas últimas aparições
culturais, foi homenageado pela Fundação Òmnira, que publicou os seus poemas Ay! “Ai, que me mato/por te encontrar outra
vez/como a goiaba devez/no meio do mato” e Gatos
“Essa penumbra de gatos/ (noite felina em veludo)/já quase que me diz tudo/em
poucos atos./E se não os praticamos/na cama que foi tão sua/eles o fazem na
rua/ gatos-” na coletânea “Salvador 460 anos de Poesia“ Ed. Òmnira/BA, página 85, uma publicação em homenagem ao aniversário da
cidade, que teve lançamento no Salão Nobre do Colégio Central da Bahia, que além da presença do próprio Fred Souza Castro
e autores, tiveram entre os presentes personalidades como: Clarindo Silva, Germano
Machado, Almir Oliveira, dentre tantos outros ex-alunos da casa que fizeram
questão de aparecer.
Antes de falecer Fred havia pedido
ao amigo Fernando da Rocha Perez que apresentasse o seu próximo livro de poemas,
ainda sem titulo e desconhecido do público baiano; notas dão conta de que o
livro será publicado através de edital da Secretaria de Cultura do Estado.
O contemporâneo Germano Machado disse em tom
de despedida. “Acostumei-me, naqueles anos 80 a ler o que, em A Tarde,
Frederico escrevia. Sentimos muito. Que nesta hora, além do espaço e do tempo,
seu espírito abraçará e será abraçado pelo Deus da Vida. Embora, não tendo uma
crença religiosa definida, o que vale para Deus é ser correto, bom, ter coração
aberto. E ele o teve”. Sobre SAMBA DE RODA, de Fred Souza Castro escreveu em
artigo... “Poesia autêntica porque fecunda; real, porque revela o íntimo do
povo; valiosa, porque continua o caminho da poética social de Castro Alves. Não
vai, nesta última afirmativa, um elogio à pessoa do autor e nem revela
bajulação banal de escriba provinciano... Castro Alves, homem de sua época,
entranhado na terra o seu canto que revela o espirito da gente, gritou na sua
poesia contra a escravidão, contra o estado de miséria de uma raça, clamou por
liberdade e batalhou contra a prepotência... Frederico reencena a mesma luta,
já agora contra o feudalismo dos "fazendeiros de asfalto", contra os
que exploram a massa trabalhadora dos canaviais, revelando o drama daquela
gente...”.
Roberto Leal
Jornalista
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