Ilustração: Henry Jaepelt |
Seus poemas, como Navio Negreiro e outros, não têm comparação com nenhum dos poetas brasileiros, inclusive Fagundes Varela, ao qual Castro Alves considerava o grande poeta dessa época. Lembrar que, com tão poucos anos de vida, Castro Alves, além de latim, falava, escrevia e traduzia francês, tendo ainda visão generalizada da língua inglesa, assim como da italiana e espanhola... Se não era um poliglota, tinha ao menos conhecimento da estrutura de varias línguas. Traduzia e adaptava Victor Hugo, Lamartine, Henry Murger, D. Guilhermo Gana, Musset, Espronceda e semelhantes, com os pulmões furados, boêmio, tendo perdido por infeliz acaso o pé esquerdo (tiro próprio inesperado), demonstrava a grandeza intelectiva, o talento e mesmo a genialidade do poeta. Sua genialidade não vem, evidentemente, de ter conhecido línguas e feito traduções, mas de sua inspiração e intuição em um século de puro racionalismo.
Seus versos é que são geniais, o tom, pathos, sem se falar que varias de suas poesias foram cantadas, é ouvir cantar Andréa Daltro e que ele cantava, colocou a modinha em alto estilo na poesia nacional. Teatrólogo, sua maior amante, a portuguesa e mulher de teatro Eugênia Câmara, levou a fazer publico, em Recife, Salvador e São Paulo, o seu drama o Gonzaga. Pintava, desenhava, conhecia musica. Chegar a tanto aos 24 anos é simplesmente notável. A temática negra, em trabalhos fora do comum, em qualquer país que então tratou da negritude, Vozes d’África, poemas fotográficos sobre a vida do negro e seu sofrimento, sua existencialidade brasileira, ultrapassam elogios.
Pedro Calmon e Afrânio Peixoto deixaram livros definitivos sobre Castro Alves que as novas gerações deveriam ler, estudar, analisar e ver as dimensões “castroalvinas”. Castro Alves, mais um detalhe: era poeta ecológico, sem esse nome poeta amante da natureza, um penenteísta em filosofia (Deus em tudo e tudo em Deus).
Roberto Leal
*Artigo publicado no Diário da Tarde, página 2, Opinião – sexta-feira 16/03/2001, BH/MG.
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