Ela era uma mulher que bebia uísque, fumava charutos feitos à mão, esbravejava sem nada temer e praguejava com frequência. Ela usava calça por sob a saia e uma arma sob o avental. Com seu um metro e oitenta de altura e com noventa e um quilos, Mary Fields era uma mulher intimidadora e destemida. Mary morava em Montana, na cidade de Cascade. Ela era uma pessoa especial na comunidade onde ela residia. Embora as mulheres não pudessem entrar nos salões, ela recebeu permissão especial do prefeito para entrar a qualquer hora e em qualquer bar de sua preferência.
![]() |
Foto: Reprodução da internet |
Mas Mary não era de Montana. Ela ficou órfã ainda muito nova e cresceu recebendo
educação das freiras ursulinas, nasceu escravizada no Tennesse, no início da
década de 1830, não se sabe ao certo, e viveu escravizada por anos até que a
escravidão fosse abolida. Como uma mulher livre, a vida a levou primeiro à
Flórida para trabalhar para uma família e depois para Ohio quando parte da
família se mudou. Quando Mary tinha 52 anos, uma sua amiga íntima que morava em
Montana adoeceu com pneumonia. E ao saber da notícia, Mary viajou para cuidar
da saúde da sua amiga, que logo se recuperou e Mary decidiu por ficar residindo
em Montana, se estabelecendo no Cascade, onde seu começo não foi muito tranquilo.
Para sobreviver, ela abriu um restaurante, mas não era muito chef de cozinha e também
era uma pessoa muito generosa, nunca se recusando a atender um cliente que não
podia pagar. Aquela mulher musculosa, sempre empunhando
uma pistola, chamava atenção por onde passava.
Mas em 1895, quando estava na casa dos sessenta anos, Mary, ou
como "Stagecoach Mary ou Black Mary", como às vezes era chamada,
tornou-se a primeira afro-americana a trabalhar como carteiro nos Correios dos Estados
Unidos. Conseguiu no teste ao emprego ser a candidata mais rápida a atrelar os seis
cavalos, da diligência.
Ela não era funcionária do Departamento de Correios dos
Estados Unidos, que não contratava ou empregava carteiros para fazer rotas, mas
premiava contratos de rotas estelares para pessoas que propunham menores preços. Essas
pessoas, de acordo com o processo de inscrição do departamento, prestavam
fianças para comprovar sua capacidade em financiar a rota. Depois que um
contrato era concedido, o contratante poderia então dirigir a rota por sua conta
própria, sublocar a rota ou até contratar um motorista experiente. Algumas
pessoas obtinham vários contratos de rota estelar e conduziam as operações como
um negócio. Mary Fields tinha o contrato da rota estelar para a entrega de
correspondências dos Estados Unidos de Cascade/Montana para Missão de São Pedro. Ela
dirigiu essa rota por dois contratos de quatro anos, de 1895 a 1899 e de 1899 a
1903.
A escritora
Miantae Metcalf McConnell forneceu toda sua documentação descoberta, durante
sua pesquisa sobre Mary Fields, ao historiador dos arquivos do Serviço Postal
dos Estados Unidos, em 2006, o que permitiu ao USPS, reconhecer Mary Fields
como a primeira mulher afro americana a exercer a função de carteiro. Por fim, ela se aposentou e foi administrar uma lavanderia. Aquela
era Mary Fields. Uma rebelde, uma lenda. Ela faleceu no dia 5 de dezembro de
1914, de insuficiência hepática. Foi sepultada no Cemitério Hillside em Cascade,
local marcado com uma acanhada cruz de madeira. Aquela mulher musculosa, que
nunca se casou, sempre empunhando uma pistola, chamava atenção por onde passava. Fields se destacou como uma mulher que esteve muito à frente de
seu tempo, durante anos de aventura no Velho Oeste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário